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19/01/2021 09:40 |
Saída de Trump não significa fim do Trumpismo, diz autora
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![]() ![]() ![]() Jornalista investigativa que cobre corrupção corporativa, Andrea Bernstein acompanha a trajetória de Donald Trump desde os anos 1990. Apresentadora do podcast Trump.Inc, ela lançou no ano passado o livro Oligarcas Americanos: os Kushners, os Trumps, e o casamento entre dinheiro e poder, sem lançamento no Brasil, sobre a história familiar e empresarial de Donald Trump e a família de seu genro e principal assessor especial, Jared Kushner. Nesta entrevista, Andrea diz que as reformas feitas por Trump para reduzir impostos sobre fortunas fizeram com que enormes fluxos de dinheiro invadissem a polícia americana, e que apenas uma nova reforma tributária poderia “reduzir a influência do dinheiro sobre a política”. Mesmo assim, ela alerta que a saída de Trump da Casa Branca não põe fim ao trumpismo, e que os Estados Unidos precisam de um processo de reconciliação nacional para que o povo restaure a confiança nas instituições. “Há milhões de pessoas que tiveram suas cabeças preenchidas com as mentiras de Trump, e essa é uma situação muito, muito perigosa”. ![]() Como alguém que cobre os negócios do Trump há décadas, você se surpreendeu com a recusa dele em aceitar a derrota nas eleições e a invasão do Capitólio? Eu estou chocada, mas não surpresa. O que eu quero dizer é que o que aconteceu era previsível. Conhecendo os apoiadores de Trump e as coisas e a maneira como ele estava se comunicando me deixou alarmada. Muitas pessoas estavam preocupadas que haveria violência no dia da votação. E as pessoas disseram, “ok, não houve violência, ufa, de alguma maneira é como se tivéssemos driblado uma bala”. De alguma maneira eles [apoiadores de Trump] não conseguiram se organizar o suficiente. Mas depois eles todos começaram a se concentrar nesse grande evento [Marcha para Salvar a América], e Trump veio. Eu escrevi recentemente um artigo para o New York Review of Books que termina assim: “tudo é legalizado se você é o presidente”. Trump gastou uma quantidade sem precedentes de dinheiro tentando impedir os que não o apoiam de ir votar. E quando os eleitores expressaram a sua vontade nas urnas ele tentou alterar o resultado das eleições. Tudo isso é inteiramente consistente com a maneira como Trump tem levado a presidência e como ele sempre operou seus negócios durante décadas. Então, nada disso é surpreendente. No entanto, é bem chocante que isso aconteça num sistema em que há uma crença básica nas leis, onde há uma crença fundamental na democracia, mesmo que ela tenha muitos problemas… Nós nunca tivemos um líder que estivesse disposto a violar e destruir essas coisas nas quais acreditamos. Existe um futuro político para o Trump ou o Trumpismo? Olha, agora que a Câmara dos Deputados votou pelo impeachment, o Senado tem que votar. Mas, se Trump sofrer esse impeachment no Senado – mesmo depois de deixar o cargo – bastam 51 votos para ele não poder mais concorrer a nenhum cargo. Agora, isso é o final do Trumpismo? Eu acho que não. 74 milhões de pessoas votaram em Trump e elas realmente acreditam nas coisas que ele diz. Há dezenas de milhões de pessoas que tiveram suas cabeças preenchidas com as mentiras de Trump, e essa é uma situação muito, muito perigosa. A Hannah Arendt, no seu livro As Origens do Totalitarismo, escreveu sobre as pessoas que não conseguem mais distinguir entre a verdade e mentira, e isso cria um terreno fértil para um governo autoritário ou totalitário. Acho que isso é muito, muito assustador – que um número tão grande de americanos acredita no que Trump diz. Quando você olha para países do mundo que tiveram regimes radicais implantados, como a África do Sul, eles derrubaram esses governos e substituíram por outro. E até mesmo na Alemanha nazista, quando ela perdeu a guerra houve uma tarefa de reconstrução e reconciliação, então acho que pode acontecer algo assim. Mas isso não acontece se você ignorar e fingir que não aconteceu nada. E depois de ver todo o impacto causado pelas ações de Trump, acho que uma das grandes questões é como vai ficar agora, sem Trump. Como restaurar a fé nas instituições. Exatamente. É um problema similar ao que enfrentamos no jornalismo, certo? Aqui neste país, os jornalistas nunca foram tratados com menos respeito, porque fomos chamados de inimigos do povo. E muitas pessoas acreditam nisso agora. Então qual é a resposta? A resposta é continuar a fazer bom jornalismo, e acreditar que se você continuar fazendo isso, você vai mudar as coisas. Acho que em todas as instituições é preciso ter uma reconstrução, um sentido de justiça. É a mesma coisa com o sistema de Justiça. Há muito trabalho a ser feito no sistema de justiça para fazer com que as pessoas acreditem de novo que a lei é para todos. Acho que isso tudo pode ser feito, mas tem que ser um processo longo e intencional. Logo após a invasão do Capitólio, algumas empresas romperam relações comerciais com Trump. Me chama a atenção que o Deutsche Bank tenha sido uma delas, porque segundo as investigações do seu Podcast Trump.Inc, o Deutsche Bank foi essencial para que Trump continuasse fazendo negócios. Ah sim… O Deutsche Bank manteve Trump vivo. A última vez que o Trump entrou em ruína foi em 1989, 1990. Ele devia 800 milhões de dólares para diversos bancos. Ele quase perdeu tudo o que tinha. E ele não conseguia mais conseguir empréstimos de nenhum banco americano – nem o JP Morgan Chase, nem o Citibank, nem o Wells Fargo – nenhum grande banco dos EUA financiaria os empreendimentos imobiliários do Trump depois disso. E isso afetou muito os negócios dele.Nessa época ele deixou de ser empreendedor imobiliário e passou a entrar em acordos para licenciar a sua marca. Ele conseguiu empréstimo do Deutsche Bank para três grandes projetos. Para o Campo de Golfe em Durell, que fica na Flórida, próximo de Miami, para o Trump Hotel em Washington ser renovado, e para um terceiro empreendimento em Chicago. Mas ele conseguiu um empréstimo de mais de 300 milhões de dólares do Deutsche Bank, e o banco, obviamente, sabia do histórico de Trump com os bancos. Mas, naquela época, eles queriam entrar no mercado americano, e estavam buscando clientes famosos, como Donald Trump. Embora o Deutsche Bank tenha sua própria história problemática de envolvimento com lavagem de dinheiro, e tenha sido penalizado pelas autoridades americanas e britânicas a pagar bilhões de dólares em multas, seguiram junto Trump por muito tempo. Agora que Trump não vai mais estar no poder, especialmente depois da invasão do Capitólio, o Deutsche Bank é apenas um dos parceiros de Trump que estão fugindo. Há o Deutsche Bank, há o banco Signature, o município Nova York anunciou que iria cancelar seu contrato com Donald Trump, a associação profissional de golf anunciou que cancelou o torneio que fariam no campo de golfe de Trump em 2022… Ele está com um grande problema em termos de negócios, como ele vai conseguir financiamento e quem serão seus clientes? O Trump gerencia resorts e hotéis de luxo, prédios luxuosos, e as pessoas que querem esse tipo de coisas não querem o tipo de atenção pública como o que aconteceu na invasão do Capitólio, não querem ser associadas a esse tipo de coisa. Então ele enfrenta um tipo de desconexão fundamental com seus clientes, e isso será um grande desafio para os negócios dele. ![]() Interessante isso, porque no seu podcast e também na cobertura da imprensa, fica muito claro que ele não pensava que iria chegar à presidência, que a campanha ia ser uma enorme operação de marketing para a marca “Trump”, e ele acabou virando presidente… Sim, sim. Mas ele tem um futuro no mundo dos negócios? A marca “Trump” está com muitos problemas. Não está claro quem serão seus clientes, não está claro onde vai conseguir dinheiro ou como Trump vai pagar suas dívidas. As coisas que Trump já disse que pretende fazer – como fundar um império midiático – serão bastante desafiadoras. Há algum caso criminal sobre as práticas de negócios de Trump que podem ter consequências para ele quando ele sair da Casa Branca? O caso mais perigoso é o do procurador do distrito de Manhattan contra ele. Isso começou depois que o advogado de Trump, Michael Cohen, foi condenado por pagar “hush money” [dinheiro pelo silêncio] da atriz pornô Stormy Stormy Daniels em 2018. Depois disso, o procurador de Manhattan começou a investigar não apenas para ver se houve crimes cometidos por Trump em relação a esse pagamento, mas se houve outros crimes que foram cometidos por Trump, suas empresas ou seus sócios. E esses crimes incluem fraude bancária, mentir para bancos, mentir para a Receita Federal, conspiração para cometer esses crimes graves. O maior deles pode levar a 25 anos de cadeia. E como parte da sua investigação, o procurador do distrito de Manhattan estava tentando obter as declarações de impostos de Donald Trump, e o Trump o processou em uma batalha até a Suprema Corte americana e perdeu, e ele ainda está em uma batalha judicial para manter seu imposto de renda fora das mãos do procurador. Bom, ele conseguiu atrasar o caso porque argumentou que como presidente ele não pode ser alvo de uma investigação criminal. Mas essa investigação está correndo desde 2018. E sabemos que o procurador está olhando para crimes específicos como fraude bancária, fraude contra seguradoras… E uma vez que Donald Trump não seja mais presidente, esperamos que o caso avance bastante nos próximos meses. Isso é muito sério, porque Trump nunca foi denunciado criminalmente. Ele já foi investigado por procuradores, mas nunca foi indiciado. Ele foi processado muitas, muitas vezes. Por exemplo, foi processado pelo procurador distrital de Nova York por causa da Universidade Trump [por propaganda enganosa] e ele entrou em um acordo para pagar 25 milhões de dólares. O Departamento do Tesouro americano deu uma enorme multa a ele – duas vezes – porque o Cassino Trump Taj Mahal não tinha controles contra a lavagem de dinheiro. Duas vezes o cassino recebeu a maior multa da história do Departamento do Tesouro. O Conselho de Ética do estado de Nova York deu a ele a maior multa da hitsória por lobby ilegal. Então, ele recebeu muitas multas, mas nunca teve uma acusação criminal. Ouvindo essas histórias, o que vem à cabeça é: como é possível nos Estados Unidos que uma pessoa bilionária viole a lei repetidamente e saia livre mesmo assim? Acho que há diferentes coisas que aconteceram. Uma delas é que, toda a estrutura financeira que permitiu ao Trump construir seu império de negócios – o uso de empresas ilimitadas para comprar propriedades e a estrutura dos condomínios – ou seja, ele basicamente pôde mover montanhas de dinheiro de maneira secreta, e isso foi algo até encorajado pelos bancos. E esse tipo de fluxo secreto de grandes fortunas é o que permitiu um fenômeno como Donald Trump. Depois da era Trump, há muita energia apoiando leis anticorrupção, por exemplo, Elizabeth Warren apresentou uma PL [projeto de lei] para impedir que qualquer pessoa consiga fazer o que Trump fez. Vamos ver. Mas uma das coisas que aconteceu historicamente e globalmente é que, em sua maioria, a corrupção acontece longe dos olhos do público, e as pessoas não entendem. Mas Trump tornou isso tão visível que estamos em uma situação em que agora pode ser que haja uma real oportunidade para uma mudança. Eu acho que agora muito mais pessoas entendem as implicações da corrupção. E também depende do que o governo Biden vai fazer. Ou seja, foram os cortes de impostos que permitiram um maior fluxo de dinheiro para a política, e eu acho que, se os mais ricos passarem a pagar mais impostos, isso pode mudar. Houve alguns momentos na história dos Estados Unidos em que isso ocorreu, como na Era Progressista [1896–1916], onde ocorreram reformas no sistema tributário e no sistema democrático, e essas duas reformas ajudaram a reduzir a influência do dinheiro sobre a política. Acho que estamos em um momento em que isso poderia acontecer de novo. Há planos para isso no novo governo? O Biden já disse que quer taxar mais os ricos. Depois do sucesso das campanhas dos democratas Bernie Sanders e Elizabeth Warren, vimos que há apoio social para isso. Deveríamos estar otimistas sobre o futuro dos Estados Unidos? Quero ser realista sobre o futuro. Mas acho que estamos em um desses momentos da história americana em que nós podemos passar por uma transformação positiva. Uma das coisas que gerou o Trumpismo foi que não houve uma penalização dos bancos após a crise financeira de 2008. Isso criou uma espécie de desespero e cinismo entre as pessoas, que sentiram que estavam simplesmente sendo ferradas pelos bancos, e, bom, as regras não se aplicam aos muito ricos. Acho que agora nós temos a chance de mostrar que sim, elas se aplicam, e espero que dessa vez a gente acerte nisso. Porque se errarmos, será um desastre. |
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19/01/2021 03:00 |
Conheça as mineradoras mais caloteiras do Brasil
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![]() ![]() ![]() O tempo passa, mas a agonia de mais de 5 mil moradores nos arredores de Sarzedo (MG) permanece como legado do rompimento da barragem da Vale na vizinha Brumadinho. Duas semanas depois do ocorrido, a comunidade em torno do bairro Brasília agrupou-se para cobrar segurança em relação à barragem de outra mineradora, a Itaminas S/A, a 6 km do palco da tragédia. À época, não havia nem sirenes para avisá-los caso ela entrasse em colapso, segundo moradores ouvidos pela Agência Pública. “Primeiro veio o baque, a tristeza, mas depois saímos batendo de porta em porta, chamando o pessoal pra conversar sobre o que a Itaminas faz conosco”, diz Maria José Ramos Soares. Conhecida como dona Lia, ela e a comunidade vivem ressabiadas com a B4, uma das três barragens da empresa diante de suas casas, a 50 km de Belo Horizonte. As barragens foram construídas pelo mesmo método daquela rompida em Brumadinho, na mina Córrego do Feijão, tido como mais barato e inseguro. A B4 da Itaminas, de quase 100 metros de altura, amedronta: no pior cenário, estima-se que seus 3,5 milhões de metros cúbicos de rejeitos varrerão diversos bairros rumo ao rio Paraopeba, matando-o pela segunda vez. Muitos moradores não podem fugir pelas rotas criadas pela empresa, com subidas íngremes. “Eu vivo a 8 minutos de uma tragédia”, diz dona Lia. Outra moradora, Maria Verônica Firmo dos Santos, reforça o temor e denuncia: “Foi em 2015 que gente de confiança nossa, que trabalhava lá [na mineradora], registrou deslizamentos em uma das barragens”. “Mas só em 2019 que descobrimos que a secretaria de Meio Ambiente [de MG] não sabia, como também não sabia que a empresa fez remendos na barragem!”, afirma. Procurada pela reportagem, a secretaria não confirmou nem negou a denúncia. O caso da barragem B4 não é o único impasse da Itaminas com o governo e a população. Ela deve mais de R$ 500 milhões para Minas Gerais, por calotes no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Trata-se de uma das maiores caloteiras do setor mineral no país, segundo o Ministério da Economia. Ao todo, mineradoras deviam pelo menos R$ 56,4 bilhões para a União, estados e municípios até agosto de 2020 – incluindo calotes e dívidas em pagamento, consideradas regulares. Somente os débitos irregulares somam R$ 8,6 bilhões, ou seja, pouco menos de um quinto do total. Os dados foram obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI). A Pública concentrou-se nos calotes e encontrou de tudo um pouco por trás deles. Há acidentes com trabalhadores, débitos com a Previdência, multas por transporte irregular de substâncias tóxicas, não pagamento de salários e direitos trabalhistas, além de sonegação fiscal, todos de mineradoras junto ao Ministério da Economia. “As dívidas nunca aparecem na narrativa do setor, que divulga amplamente suas receitas, mas não suas despesas e problemas”, diz Bruno Milanez, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e coordenador do grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade. Para ele, o modelo da mineração no país retém os ganhos para as empresas enquanto deixa o ônus para a sociedade.
Nada.
Mineradora tentou saldar R$ 500 mi em dívidas com obras de arteA Itaminas conquistou renome graças às suas reservas minerais no Quadrilátero Ferrífero, exploradas há quase 60 anos. Seus responsáveis são pessoas influentes como Júlio Arnoldo Laender, um dos prefeitos biônicos de Belo Horizonte no tempo da ditadura militar, e Bernardo de Mello Paz, criador e dono do Museu Inhotim. As peças alocadas no museu quase sanaram as dívidas da empresa no início de 2020. Em março, o presidente da Itaminas, Bernardo Paz, e o governo de Romeu Zema (Novo) combinaram que Inhotim cederia 20 de suas obras ao estado, quitando sua dívida de R$ 500 milhões. A Pública procurou a Advocacia-Geral de Minas Gerais (AGE) para conhecer os detalhes das negociações, mas descobriu que o órgão não participou das tratativas. A informação foi dada pela própria AGE, que alega que os termos do acordo foram firmados em 2018. Fato é que a juíza Bárbara Bomfim, da 1ª Vara de Feitos Tributários, barrou o acordo em 8 de outubro de 2020. Na sentença, Bomfim registra a “necessidade premente de receitas tributárias para fazer frente à calamidade de saúde pública atualmente vivida”, referindo-se à pandemia. Diz também: “É evidente que a solução adotada pela Administração Fazendária [de Minas Gerais] é contrária ao interesse público”. À Pública, a Advocacia-Geral disse que o pagamento de dívidas por meio de obras de arte está previsto nas leis estaduais e que cabe à justiça de Minas Gerais “decidir a respeito” do acertado entre governo e Itaminas. Já Bernardo Paz disse que “confia na legalidade do acordo” e “aguarda a posição definitiva do Poder Judiciário”. Não é o primeiro problema do dono de Inhotim e Itaminas com a Justiça. Em 2017, ele foi condenado pelo uso de uma empresa de fachada para movimentar quase US$ 100 milhões longe do fisco. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o valor incluía repasses à mineradora, e o empresário foi sentenciado a mais de nove anos de prisão por lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e previdenciária. Bernardo Paz alegou que as provas eram insuficientes e foi inocentado, em segunda instância, um mês antes de acertar-se de vez com o governo mineiro. A Procuradoria Regional da República, atual responsável pelo caso, disse que não recorrerá “por entender que, no mérito, a decisão estava tecnicamente correta”. A Itaminas segue ao largo das polêmicas. Parada por meses em 2019, sua mineração retomou as atividades no primeiro trimestre de 2020. As atividades ganharam fôlego com 120 mil toneladas de minério compradas de uma subsidiária da Vale, até então inutilizadas em um canteiro vizinho ao palco da tragédia em Brumadinho. ![]() A operação foi criticada por moradores, já que o transporte do minério espalhou poeira tóxica em suas casas e nas ruas do bairro. “Aqui, a força do dinheiro fala alto. Eles colocaram advogados pra trabalhar sem parar, e na virada do ano [de 2019] já voltaram com tudo”, diz dona Lia Soares. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente rebate ao dizer que “as vistorias e fiscalizações realizadas não demonstraram evidências dos fatos apontados” e que “todas as autorizações para a operação e retomada dos trabalhos estão devidamente acompanhadas pelo Poder Judiciário”. É importante ressaltar que a Itaminas tem também multas por crimes ambientais, como mostram dados do Ibama compilados pelo observatório De Olho nos Ruralistas. Uma de suas siderúrgicas, em Sete Lagoas (MG), foi punida em quase R$ 6 milhões por desmatamentos ilegais em 2008 e 2014. Uma das multas, de mais de R$ 1 milhão, já prescreveu, e o resto não foi quitado. Mas o valor dessas punições não entra nas contas do Ministério da Economia, porque sua cobrança é uma responsabilidade da Procuradoria-Geral Federal (PGF). À Pública, a PGF informou que existem ao menos outros R$ 9,2 bilhões de multas do Ibama não pagas, sem explicar quanto se refere às mineradoras. As mineradoras de ferro como a Itaminas sobressaem nas dívidas do setor. Segundo o Ministério da Economia, a cada R$ 100 devidos, tanto em situação regular quanto irregular, R$ 83 provêm de mineradoras de ferro. Tanto no setor quanto no ranking geral, a Vale lidera disparada, afinal é responsável por mais de R$ 40 bilhões em dívidas. O valor inclui infrações judiciais por conta dos desastres em Mariana e Brumadinho, por exemplo, e grande parte dos débitos está regular ou foi suspenso por decisões da Justiça. Metasa, de prefeito reeleito no RN, deve mais de R$ 260 milhõesTambém há políticos no comando de mineradoras devedoras, como o prefeito reeleito de Bodó (RN), Marcelo Filho (PSD). Ele passou por problemas durante sua gestão, acusado até de nepotismo pelo Ministério Público, em um processo que segue em aberto no Judiciário estadual. Ainda assim, conseguiu uma vitória estratégica para seus negócios: ele é dono da Metais do Seridó S/A, responsável pelas reservas minerais do município a 176 km da capital potiguar. Trata-se da quinta mineradora mais caloteira no país. Marcelo Filho avaliou suas cotas na empresa em apenas R$ 700,00, segundo declaração prestada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mais conhecida como Metasa, a empresa tem cerca de R$ 261 milhões em dívidas “não previdenciárias”, em situação irregular. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional informou que a categoria engloba desde sonegação de impostos até o calote de empréstimos públicos, como é o caso dessa mineradora. A Metasa detém até 2039 os direitos de exploração das reservas de um minério-base para ligas de tungstênio, usadas na fabricação de lâmpadas incandescentes e monitores em geral. Para o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, essa atividade ameaça o semiárido potiguar. ![]() De acordo com um relatório do Cetem, “a lavra [área da mineração], juntamente com as condições climáticas de baixa pluviosidade [poucas chuvas], torna o Seridó [onde Bodó se situa] um dos exemplos mais graves da desertificação” no Rio Grande do Norte. Não faltaram investimentos na empresa do prefeito de Bodó, que há mais de 20 anos recebeu pelo menos R$ 6,6 milhões para a produção de uma liga de tungstênio misturada a ferro. A mineradora não entregou o que fora acertado nem pagou pelo investimento. O ex-ministro da Integração Nacional e ex-senador Fernando Bezerra foi sócio na Metasa entre 1989 e 1998, período que coincide com o empréstimo. Antevendo problemas, ele repassou suas cotas a Marcelo Mário Porto, pai do atual prefeito de Bodó, como reportado pela Folha de S.Paulo há 20 anos. Mesmo assim, o ocorrido virou escândalo político. O caso fez parte de um suposto desvio de verbas da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, motivo da saída de Bezerra do ministério em 2001. Riscos ambientais e um calote milionário não abalaram os negócios. Hoje, a mineradora do prefeito de Bodó arrenda seus direitos de exploração para outra empresa, controlada pelos investidores estrangeiros da Brazil Tungsten Holdings. ![]() Segundo a Receita Federal, a sede comercial da Brazil Tungsten fica na caixa 71 da rua Craigmur Chambers, cidade de Tortola, Ilhas Virgens. É um típico paraíso fiscal onde bancos autorizam transações financeiras sem identificação dos envolvidos, com taxas reduzidas ou mesmo livres de impostos – territórios muitas vezes usados para a lavagem de dinheiro. As Ilhas Virgens pertencem ao Reino Unido, mesma origem dos responsáveis pela mineradora que, hoje, opera em Bodó com o aval do prefeito. De 2014, uma nota publicada pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral mostra que um fundo de investimentos britânico adquiriu 10% da companhia que explora as lavras da Metasa. Parte das ações segue com o mesmo fundo, Gunsynd, que em 2019 detinha cerca de 6% da Brazil Tungsten. Uma tragédia comprova a relação entre as partes. Em 2018, o Gunsynd comunicou a seus acionistas um acidente no Rio Grande do Norte, com a morte de João Adelino de Souza e Jonas Eleotério Pinheiro. Os dois trabalhavam pela filial da Brazil Tungsten quando foram soterrados na lavra em Bodó, segundo nota do fundo britânico veiculada pela agência Reuters. A Pública tentou contato com Marcelo Filho (PSD), Metasa, Brazil Tungsten Holdings e Gunsynd, mas não obteve retorno até a publicação. Calotes superam as indenizações por Brumadinho em mais de 50 vezesHistórias como essas são abundantes na lista completa de mineradoras devedoras, que inclui tanto as empresas caloteiras quanto aquelas com dívidas regulares. Em termos gerais, o Ministério da Economia registra quase 6 mil mineradoras de fato caloteiras. Os R$ 8,6 bilhões devidos por elas equivalem a mais de 50 vezes o que a Vale propôs em indenizações aos atingidos de Brumadinho. Por trás dos calotes estão empresários, garimpeiros, grandes herdeiros, políticos e grupos do exterior. Tal como o soterramento de trabalhadores em Bodó, há outras tragédias envolvendo caloteiras com participação estrangeira. É o caso da antiga Zamin, atual Dev Mineração S/A, no Amapá. A empresa está por trás de um desabamento no porto de Santana (AP) em 2013 e responde por um calote de quase R$ 120 milhões. À época, a britânica Anglo American controlava a mineradora, que ainda extrai minério de ferro na Amazônia. ![]() Laudos da polícia amapaense indicavam que o desmoronamento aconteceu devido à “falta de estrutura adequada junto à margem do terminal portuário”, uma responsabilidade da mineradora, como relatou o portal G1. Seis trabalhadores morreram, uma pessoa ficou ferida e os negócios escassearam. A Anglo American demorou anos até assumir sua responsabilidade. Em dezembro de 2019, firmou um acordo para indenizar em R$ 47 milhões os municípios atingidos, Santana, Serra do Navio e Pedra Branca do Amapari. Cada um deve elaborar um plano para o uso das verbas e os projetos serão fiscalizados pela MCA Auditoria, contratada pela Anglo. Segundo o MPF, “o processo está na fase de análise dos projetos apresentados pelos municípios”. Não à toa, a Anglo American colocou a mineradora à venda. O grupo inglês Cadence Minerals comprou e renomeou a empresa, iniciando o processo de recuperação judicial da atual Dev S/A. Sob nova direção, mais problemas: dessa vez, quanto à segurança de suas barragens. A mineradora não apresentou relatórios de inspeção e estabilidade da barragem Mário Cruz, em Pedra Branca do Amapari, a procuradores do MPF. A estrutura da Dev S/A comporta 25 milhões de metros cúbicos de rejeitos, mais que o dobro daquela rompida em Brumadinho. Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), um eventual rompimento causará “impacto ambiental significativo” ao sul da Floresta Nacional do Amapá – em plena Amazônia. O MPF sustenta que a empresa “não apresentou a documentação solicitada”. A Cadence Minerals e a Dev S/A não responderam à reportagem. Os calotes da Dev S/A somam-se a milhões em dívidas de mineradoras na maior floresta tropical do mundo. Os dados obtidos pela Pública revelam que mineradoras registradas nos estados da Amazônia Legal devem R$ 614,5 milhões, tanto em situação regular quanto irregular. Com exceção do Pará, segundo nesse ranking exclusivo ao bioma, as maiores dívidas se originam em suas franjas, como no Mato Grosso – onde empresas devem R$ 174 milhões no total – e no Tocantins, com mineradoras que devem R$ 88 milhões. ![]() Enquanto isso, a política nacional de segurança de barragens escancara problemas do atual governo. Em setembro passado, Jair Bolsonaro impediu a destinação do dinheiro de novas multas para a “melhoria das ações dos órgãos fiscalizadores”. O governo justificou seu veto ao dizer que a medida iria “comprometer a gestão fiscal da União”, “dificultando políticas de ajuste” e gerando “insegurança jurídica”. “Tanto o não repasse pelo Ministério da Economia como a subutilização de verbas da ANM têm como origem políticas que não priorizam a fiscalização e o controle”, diz à Pública Cláudio Scliar, ex-secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia (MME).Fato é que o dinheiro para fiscalização rareia. A agência Fiquem Sabendo revelou um memorando da ANM que expõe a busca desesperada da autarquia por mais recursos do orçamento federal para 2021. |
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18/01/2021 05:27 |
Governo Bolsonaro sabia 10 dias antes de colapso em Manaus e necessidade de transferir pacientes
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![]() ![]() ![]() “Há possibilidade iminente de colapso do sistema de saúde, em 10 dias”, afirma um documento do ministro Eduardo Pazuello sobre o sistema de saúde de Manaus. O diagnóstico foi a principal conclusão de uma comitiva do Ministério da Saúde que visitou a capital do Amazonas mais de uma semana antes do colapso no sistema de saúde local. Exatos 10 dias depois, hospitais de Manaus esgotaram suas reservas de oxigênio com pacientes morrendo por asfixia. ![]() Além de prever com exatidão a data do colapso no sistema de saúde, o Ministério da Saúde diagnosticou com 10 dias de antecedência dificuldades na compra de materiais para consumo hospitalar, como medicamentos e equipamentos, problemas na contratação de profissionais de saúde habilitados para trabalhar nas UTIs e a necessidade de estruturar novos leitos rapidamente para os pacientes que já precisavam de internação no início de janeiro. O governo também já sabia da possibilidade de transferência de pacientes para hospitais universitários federais de todo o Brasil e para a rede de saúde no Rio de Janeiro. As informações estão em documentos produzidos pelo próprio Ministério da Saúde e foram enviadas pela Advocacia Geral da União (AGU) ao Supremo Tribunal Federal no último domingo, dia 17. A Agência Pública questionou o Ministério da Saúde sobre o tempo para início das ações, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem. A reportagem também questionou a secretaria Estadual de Saúde do Amazonas sobre comunicados e pedidos de auxílio ao Ministério da Saúde para fornecimento de oxigênio e atendimento a pacientes, que ainda não foi respondido. O passo a passo de uma crise anunciadaNas semanas finais de 2020, o Ministério da Saúde emitiu um alerta: o governo observou um aumento de casos em Manaus na semana do Natal, e um segundo aumento, ainda mais significativo, a partir de 27 de dezembro — nessa data, vendedores do gás em Manaus já apontavam aumento da procura, como a Pública revelou. Segundo dados do próprio Ministério, o número de internações dobrou em uma semana, saindo de 36 casos, em 20 de dezembro, para 88 casos, em 27 de dezembro. Devido à situação em Manaus, no dia 28 de dezembro, em Brasília, o ministro Eduardo Pazuello se reuniu com o secretariado e principais assessores do Ministério da Saúde. Segundo o próprio ministério, foi a partir dessa reunião que o governo decidiu enviar um grupo técnico da pasta para o Amazonas, para “avaliar a situação”, diz o governo. O governo ainda optou por atrasar a viagem em alguns dias, para depois do ano novo, “em virtude do início de mandato de gestores municipais e de possíveis trocas de secretariado”, registra o documento. Era 3 de janeiro de 2021 quando a comitiva do Ministério da Saúde chegou a Manaus. O grupo, chefiado pela Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, contou com mais dois diretores e cinco técnicos do Ministério da Saúde. Na semana, o número de hospitalizações havia dobrado novamente: 159 internações. ![]() No dia seguinte, 4 de janeiro, o governo reconheceu: “há possibilidade iminente de colapso do sistema de saúde, em 10 dias”, relata documento que leva o nome de Eduardo Pazuello, produzido pelo próprio Ministério da Saúde. O governo ainda previu um “substancial aumento de casos” e “aumento da pressão sobre o sistema” entre o período de 11 a 15 de janeiro. A pasta também adiantou a possibilidade de “evacuação de doentes”, com apoio de hospitais universitários federais da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) e dos hospitais federais do Rio de Janeiro. A conclusão foi possível após reunião da comitiva do Ministério da Saúde com o Governador do Estado do Amazonas, Wilson Miranda Lima, o Prefeito da Cidade de Manaus, Davi Almeida, o Secretário Estadual de Saúde, Marcellus José Barroso Campêlo, a Secretária Municipal de Saúde de Manaus, Shádia Hussami Hauache Fraxe e outras pessoas ligadas à área da saúde. Na reunião, o Ministério da Saúde, além de prever o colapso do sistema de Manaus, diagnosticou a falta de profissionais para funcionamento de novos leitos, dificuldade na compra de materiais de consumo hospitalar e equipamentos, problemas para contratar equipes para atuar em UTIs e necessidade de abrir mais vagas em tratamento intensivo. Na data da reunião, a ocupação dos leitos de UTI na capital estava em 89,1%. Na mesma data, a comitiva diagnosticou que o Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto estava com quadro de superlotação, profissionais de saúde exauridos e desorganizados no atendimento dos pacientes e EPI dos profissionais de saúde inadequados. A visita ainda encontrou falta de insumos para atendimento dos pacientes nas unidades de saúde na capital. Layla Mariana Santos Batista, 27 anos, com dois tios internados com Covid-19 em Manaus conta que o primeiro hospital que procurou disse “eu não posso atender a sua tia”, era o hospital 28 de Agosto. “Eu clamei, implorei, mas disseram que não podia atender porque não tinha mais onde colocar ninguém dentro do hospital”. Segundo ela, a tia Maria Madalena Santos de Araújo, 43 anos, só conseguiu vaga no pronto socorro João Lúcio, que é referência da Zona Leste de Manaus. “Lembro de uma outra moça chegar num carro gritando que o pai dela estava morrendo, o atendente falou: ‘não temos cadeira, traz ele no colo’. Eles levaram ele como se fosse um pedaço de carne, sabe? Nas costas”, relembra. ![]() Governo enviou Pazuello após prever colapso e soube da falta de oxigênioEm resposta ao diagnóstico de um colapso próximo no sistema de saúde de Manaus, o governo decidiu enviar o ministro da Saúde à cidade entre os dias 10 a 13 de janeiro. Pazuello chegou à cidade dia 11. ![]() No dia 6 de janeiro, o Ministério da Saúde publicou o “Plano Manaus”, com decisões para o Governo Federal e também orientações às administrações estaduais e municipais para lidar com o colapso iminente. Enquanto Pazuello foi a Manaus, o Ministério da Saúde ordenou que a Secretaria Executiva do Ministério realizasse a “aquisições e distribuição de insumos” para a cidade, além da contratação de profissionais de maneira célere”. Os documentos elaborados pelo Ministério da Saúde deixam claro: desde a visita da comitiva, orientou-se a atuação conjunta do Governo Federal junto ao Governo do Amazonas para tratar da crise de saúde. Foi ordenado inclusive contato com o Ministério da Defesa, “alertando para o possível agravamento do quadro e solicitando que meios sejam colocados em alerta”. ![]() O plano do governo incluiu diversas outras secretarias, como a Secretaria de Vigilância em Saúde, para analisar a cepa do vírus circulante em Manaus e avaliar a possibilidade de que ela seja mais grave ou contagiosa. A atuação do Ministério da Saúde, contudo, ocorreu tarde demais para Manaus. Em documento do dia 17 de janeiro, o governo reconhece que “os casos de hospitalização seguiram subindo” nos dias seguintes à execução do “Plano Manaus”. Segundo documento que também leva o nome de Pazuello, “a rede hospitalar passou a operar no limite de sua capacidade”. Nesse documento, o governo admite que “foi detectado, ainda, logo no início do período, a gravíssima situação dos estoques de oxigênio hospitalar em Manaus, em quantidade absolutamente insuficiente para o atendimento da demanda crescente”. Segundo a pasta, no dia 8 de janeiro, o governo foi comunicado pela empresa responsável pelo abastecimento da rede hospitalar da cidade, como revelou reportagem da Folha de S. Paulo. “Tal problema chegou ao conhecimento do Ministério no dia 8 de janeiro, por meio de um e-mail enviado por Petrônio Bastos, da White Martins”. A mensagem explica “o possível desabastecimento e indicando, ao Estado, buscar outras fontes para o produto”. ![]() No e-mail, enviado pelo Gerente Executivo Unidade de Negócios da White Martins, Petrônio Bastos, a empresa pede que a Secretaria de Saúde compre volumes adicionais de oxigênio de outros fornecedores. A Pública perguntou à empresa sobre o comunicado e respostas do governo, mas não obteve resposta. ![]() Diante do comunicado, o próprio ministro da Saúde teria visitado “instalações ligadas ao armazenamento e manejo de oxigênio hospitalar”. O documento também descreve que Pazuello visitou as “instalações da White Martins em Manaus” e realizou “reconhecimento, na mesma empresa, das obras onde será instalada uma nova planta”. ![]() Transferência de pacientes prevista no início de janeiro ocorreu após colapsoNo dia 10 de janeiro, ainda antes do colapso da saúde em Manaus, o Ministério da Saúde recebeu uma proposta de enfrentamento à pandemia realizada pelos médicos Paulo Porto e Roberto Zeballos que reforçaram a iminência do colapso da estrutura de saúde da cidade. Ainda segundo o governo, no dia 10 já se discutia a “avaliação da implementação de lockdown” no Amazonas com o governo Estadual. Apenas no dia 14, o governador publicou decreto que proíbe a circulação de pessoas entre 19h e 6h em Manaus. De acordo com o Ministério da Saúde, as entregas de oxigênio pela pasta começaram no dia 12, com cilindros de oxigênio gasoso comprados da White Martins e enviados desde Guarulhos. A FAB afirma ter enviado cilindros desde o dia 8 de janeiro. No dia 14, o Ministério da Saúde enviou 120 mil unidades de hidroxicloroquina e 250 mil de oseltamivir. Segundo a pasta, no dia 15 de janeiro, quando o sistema hospitalar já havia colapsado, houve distribuição de equipamentos para a Secretaria de Saúde do Amazonas. De acordo com o governo, foram entregues 78 ventiladores pulmonares para UTIs, 40 para transporte de pacientes, 2,1 mil óculos e protetores faciais e 94,6 mil máscaras cirúrgicas. A remoção de pacientes, prevista desde a visita da comitiva no dia 4 de janeiro, começou a ser acertada no dia 14, segundo histórico apresentado pelo Ministério da Saúde. |
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18/01/2021 05:01 |
Bolsonaro bate o próprio recorde: 2020 é o ano com maior aprovação de agrotóxicos da história
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![]() ![]() ![]() O Governo do presidente Jair Bolsonaro bateu o próprio recorde e tornou 2020 o ano com o maior número de aprovações de agrotóxico na história. Na última semana, o Ministério da Agricultura publicou no Diário Oficial da União o registro de 88 pesticidas e produtos técnicos aprovados no final de dezembro. Com isso, o segundo ano de mandato de Bolsonaro terminou com 493 novos agrotóxicos, 19 a mais que em 2019, antigo recordista. Quase um terço dos mais de 3 mil produtos agrotóxicos comercializados no Brasil recebeu registro durante os dois anos de governo Bolsonaro. Desde que Tereza Cristina, ex-líder da bancada ruralista no Congresso Nacional, assumiu o Ministério da Agricultura, 967 pesticidas foram aprovados. ![]() Nem mesmo a pandemia de Covid-19 diminuiu o ritmo de trabalho da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ministério da Agricultura e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgãos reguladores responsáveis por avaliar os produtos antes que eles sejam liberados no mercado brasileiro. Foram, em média, quase 10 produtos agrotóxicos liberados por semana em 2020. E 90% das aprovações ocorreram após o início da pandemia. A grande maioria dos registros concedidos em 2020 foram de genéricos, agrotóxicos que já estavam liberados no mercado, mas que agora podem ser comercializados por mais empresas. Cinco princípios ativos são inéditos: dinotefuram, piroxasulfone, tolfenpirade, tiencarbazona e a fenpirazamina. Eles serão usados na formulação de 13 novos agrotóxicos. A empresa japonesa Nichino será responsável por produzir e comercializar quatro produtos à base de tolfenpirade. O químico, que pode ser utilizado como inseticida, acaricida e fungicida, foi classificado pela Anvisa como altamente tóxico e está aprovado para culturas de tomate, trigo, algodão, repolho, maçã, alface, entre outras. O herbicida piroxasulfona será o princípio ativo de cinco novos produtos, que poderão ser utilizados nas culturas de cana-de-açúcar e eucalipto. A empresa detentora dos registros é a Iharabras, também do Japão. Os dois agrotóxicos já foram aprovados nos Estados Unidos, mas não são permitidos na União Europeia. Mais aprovações, mais pedidosAlém do número alto de aprovações, chama atenção também a grande quantidade de pedidos de novos registros. Em 12 meses, o Ministério da Agricultura recebeu 835 solicitações de avaliação para produtos agrotóxicos. Em 2019, foram 913. Não existem dados sobre o número de pedidos nos anos anteriores. Esses pedidos são o primeiro passo do processo de avaliação de um agrotóxico. A partir daí, o Ministério da Agricultura avalia se o produto é eficaz para a praga e cultura desejada, a Anvisa analisa os riscos à saúde humana e o Ibama, ao meio ambiente. As liberações publicadas no Diário Oficial no dia 14 de janeiro foram as últimas aprovadas ainda em 2020. De acordo com o Ministério da Agricultura, houve um atraso involuntário nas publicações em decorrência do período de férias. Uma portaria publicada pelo governo em fevereiro do ano passado pretendia tornar mais rápido o processo de aprovação, por meio de uma “aprovação tácita”. Segundo a regra do Ministério da Agricultura, finalizada as análises técnicas realizadas pelo MAPA, Ibama e Anvisa, o processo de registro dos agrotóxicos teria que ser concluído em até 60 dias. Caso o prazo fosse excedido, o agrotóxico seria liberado automaticamente. Os partidos PSol e Rede Sustentabilidade foram ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedir a derrubada da portaria, sob o argumento de que a medida traria riscos à saúde da população. O STF concordou e derrubou a regra em junho. O relator da ação, ministro Ricardo Lewandowski, disse que a liberação “indiscriminada de agrotóxicos” poderia levar “perigo de grave lesão à saúde pública”. ![]() Governo diz que aprovações não significam maior consumo de agrotóxicoOs recordes anuais de aprovações que o governo Bolsonaro vêm batendo têm como causa a “vazão de demanda reprimida”, de acordo com a Anvisa. A agência regulatória diz ter adotado ações voltadas à organização dos processos de trabalho, das filas de análise e incorporação de recursos de tecnologia da informação para tornar o processo de avaliação mais rápido e eficiente. “Muitos desses processos já haviam sido analisados pelo Ibama e pelo Ministério da Agricultura, e aguardavam apenas o resultado da Anvisa para que o registro fosse publicado”, disse em nota. A agência reguladora também afirma que as aprovações não significam um maior consumo de agrotóxico, mas sim uma “maior concorrência e redução do preço para o produtor rural”. Para a Anvisa, não deve haver mais consumo “pois esses produtos são de venda restrita, mediante recomendação de profissional habilitado, por meio do receituário agronômico”. Entretanto, uma série de reportagem da Agência Pública e da Repórter Brasil denunciou o uso irregular de agrotóxicos no Brasil, onde os produtos são utilizados até mesmo em casos de homicídios e violência doméstica. Confira a íntegra da nota da Anvisa. O Ministério da Agricultura aponta que o aumento nas solicitações e aprovações de produtos de baixo impacto foram significativos para o recorde de registros em 2020. Segundo a pasta, um terço dos produtos registrados no último ano utilizam ativos biológicos, microbiológicos, extratos de plantas e outros ingredientes ativos sustentáveis. “Esse número é mais que o dobro daquele registrado em 2019 e chega a ser 20 vezes maior do que há dez anos. Uma demonstração de que o mercado de defensivos sustentáveis – incluindo alguns aprovados para agricultura orgânica – vem crescendo e mostra uma tendência de aumento na adoção de biotecnologias sustentáveis para o controle de pragas”, afirmou o Ministério, em nota. Já a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida destaca as aprovações de genéricos de agrotóxicos muito conhecidos e vendidos no Brasil, como a Atrazina, banida na União Europeia, e o Glifosato, que está em processo de banimento em diversos países pelo mundo, como a Alemanha, onde fica a sede da empresa que o produz, a Bayer/Monsanto. “Podemos classificar estes dois anos de governo Bolsonaro como uma tragédia anunciada. Tragédia porque liberou o maior número de agrotóxicos na história, colocando mais produtos no mercado e causando maior exposição da população. Estes produtos, ao contrário da propaganda, são os velhos conhecidos que comprovadamente causam sérios danos à saúde. Cerca de 1/3 dos agrotóxicos não são permitidos na União Europeia”, diz o porta-voz da ONG, Alan Tygel. Reportagem da Agência Pública e da Repórter Brasil mostrou que o Brasil e outros países em desenvolvimento são os principais destinos de agrotóxicos altamente perigosos e banidos na União Europeia. Alan Tygel também alerta para o destino dos registros. “O governo Bolsonaro também mostrou sua xenofobia seletiva: enquanto bradava mentiras acerca da “vacina chinesa”, aprovou centenas de agrotóxicos produzidos na China”, conta. Empresas e fábricas chinesas foram as que mais receberam registros de agrotóxicos, como mostrou levantamento exclusivo da Agência Pública e da Repórter Brasil. O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), que representa a indústria produtora de agrotóxicos, informou que os produtos recentemente liberados aguardavam o registro há anos. “Assim como acontece em diversos setores, o avanço da ciência permite o desenvolvimento constante de tecnologias cada vez mais efetivas e seguras contra os detratores de produtividade, o que é bastante positivo para o aumento da produção de alimentos no campo”. Confira a íntegra da nota.
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16/01/2021 07:26 |
Falta de oxigênio em Manaus: “É desumano pedir 6 mil reais num cilindro”
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![]() ![]() ![]() Enquanto mais de 50 países já iniciaram a vacinação contra a Covid-19, o Brasil vê pacientes em Manaus perderem a vida asfixiados por falta do elemento mais essencial da sobrevivência humana, o oxigênio. Com a capacidade de atendimento hospitalar esgotada e sem leitos para tratamento na capital, Layla Mariana Batista, 27 anos, diz que desde o início da pandemia nunca viveu “o inferno” de agora. Assim como centenas de moradores da capital do Amazonas, que chegam a enfrentar filas na zona industrial da cidade para levar o ar que falta a seus familiares, a vendedora de salgados e doces tem se desdobrado para conseguir oxigênio para o tio Rosivaldo Azevedo Marinho, 57 anos, e a tia Maria Madalena Santos de Araújo, 43 anos. A tia conseguiu ser internada depois de algumas tentativas mas o tio não conseguiu internação e está em casa sob seus cuidados. “A gente conseguiu para ele, a princípio, um cilindro alugado de R$2500, quando a gente foi fechar com o cara ele simplesmente disse que tava 5 mil reais. No final do dia esses 5 mil reais passaram para 7 mil reais. E a gente tem milhões de números que a gente liga, liga e as pessoas não atendem, não tem mais nada”, desabafa. A reportagem da Agência Pública entrou em contato com um dos números fornecidos por Layla, que teria sido publicado num anúncio no site da OLX. Pelo whatsapp, o vendedor que não se identifica pelo nome mas como Medic Center, em Manaus, oferece duas opções de “kit oxigênio completo para uso, cilindro de 3 litros e 5 litros, já *carregado.(cheio)”. O kit com três litros tem o valor de R$3.800 e o de cinco litros R$5.990. A suposta empresa diz que não faz locação e que aceita crédito à vista ou parcelado em três vezes, débito, PIX ou dinheiro. Sobre a entrega, afirma que não faz porque “está muito corrido” e que seria preciso “ir na loja e deixar pago”. No entanto, não forneceu o endereço até a publicação da reportagem. Ao ser questionado sobre a disponibilidade de cinco cilindros — ao valor de quase R$30 mil — o vendedor informou que consultaria “o dono”. Segundo ele, porque “tem muita gente me pedindo urgente”. No valor estariam inclusos impostos e frete. A reportagem apurou que o mesmo kit de 5 litros vendido a R$5.990 pela Medic Center é vendido por três vezes menos nas lojas de São Paulo, que cobram, aproximadamente, R$1500 pelo kit carregado. Vendedores de São Paulo que preferem não se identificar afirmaram que o valor cobrado pela suposta empresa é “exorbitante”. Questionado se o valor não é abusivo, o vendedor da Medic Center informou que “acredita que não”. “Não meu amigo. Foi comprado em São Paulo uma quantidade e está sendo vendido em Manaus. Só dão 35 unidades. Só!”, respondeu. O Código de Defesa do Consumidor assevera que é abusiva a obrigação que coloque o consumidor em desvantagem exagerada. “O aumento arbitrário dos lucros constitui infração contra a ordem econômica (art. 36, III, da Lei n. 12.529/11) e crime contra a economia popular (art. 3º, VI, da Lei n. 1.521/51)”, segundo o Ministério Público de São Paulo. ![]() Fonte: Neste imagem: Imagens mostram o desespero das pessoas em meio ao colapso da saúde em Manaus Indignação, vaquinha e desespero para salvar parentes“É desumano você ouvir alguém te pedir R$6 mil num cilindro e tu não ter da onde tirar para salvar o teu parente”, diz Layla. “Dá nojo de ouvir a pessoa te falar que tá cobrando tudo isso”, reclama. No final da tarde de ontem (15), Layla conseguiu alugar um kit no valor de R$2000 por três dias para o tio. “A gente tá fazendo uma vaquinha porque ninguém está preparado pra dar 2 mil a cada três dias para um parente teu sobreviver. E assim a gente tá seguindo aqui”. Layla informou à reportagem na tarde deste sábado que o oxigênio do tio acabou durante a última madrugada e que aguarda uma recarga da empresa na qual alugou o equipamento mas “que não tem hora para chegar”, segundo ela. No Twitter, o youtuber Felipe Neto, que está mobilizando recursos para levar oxigênio para Manaus, afirmou que “alguns dos fornecedores de oxigênio aumentaram vertiginosamente o preço ontem [15 de janeiro] e hoje, porque sabiam que teríamos que comprar pra salvar vidas. Gente podre, nojenta. Em crises a gente vê o melhor e o pior do ser humano”, escreveu. Isac Neto, 46 anos, dono de uma empresa de gás em Manaus, explica que a demanda aumentou o preço para a recarga do oxigênio. A recarga de 10 m³ que em dezembro custaria R$350 hoje custa R$800. “Eu não tenho mais como atender porque eu não tenho mais produto e as pessoas me ligando. Eu tô falando contigo e o telefone está tocando”, disse. Segundo Isac, a procura começou no dia 26 de dezembro. “Nesse dia, eu cheguei aqui em Manaus, e em uma semana vendi mais de 2 mil m³ de gás que eu trouxe de São Paulo. Todo o produto acabou dia 7 de janeiro, algo que duraria em tempos normais, uns seis meses”. Emilly de Araújo Carmo, 28 anos, que perdeu o avô Naivo Ferreira de Araújo, 81 anos, no dia 1 de janeiro, reforça o aumento abusivo de valores. Ela conta que ainda em 15 de dezembro, já diagnosticado com coronavírus, conseguiu alugar para o avô um cilindro de 40 litros por R$600 — valor que, neste momento, pode chegar a R$2000, segundo ela. “No nosso último contato, meu avô me disse que ia ficar bem e que nos amava, foi quando eu tive a oportunidade de dizer pela última vez para que eu também o amava. Queríamos ter tido a oportunidade de um outro desfecho para essa história”. “Manaus está em guerra por oxigênio”O mesmo desespero vive Grace Sá, 34 anos, que está com a mãe, Maria das Graças, 64 anos, em casa com Covid-19. “Nossa situação aqui em Manaus é a guerra por oxigênio. A minha mãe está em casa. Foi uma alternativa que nós encontramos, pois o hospital 28 de Agosto não tem condições. Além de não ter leito é uma tortura psicologica você estar lá”, revela. Ela conta que ao internar a mãe há alguns dias, levou um pequeno cilindro de oxigênio. “E a enfermeira falou bem assim: ‘ainda bem que vocês trouxeram porque não tem e quando acabar esse aí não tem mais'”. Foi quando, segundo ela, começou a sua luta e do irmão para conseguir o produto. “O meu irmão gravou um vídeo nas redes sociais que viralizou na cidade… aí conseguimos ajuda até ela terminar o atendimento lá no hospital”. No momento, ela e o irmão tratam a mãe em casa. “Aí a gente decidiu tirar ela de lá quando nós conseguimos um outro cilindro grande para trazê-la. Foi desesperador. Essa cena vai ser eterna na minha vida”, conta. “Todo dia é angustiante. Ninguém mais dorme aqui pensando em como conseguir oxigênio para o outro dia. Hoje nós temos. E amanhã, nós vamos ter? Essa é a pergunta que fica todos os dias na nossa mente. É orar e ter muita fé. Não quero nem pensar na possibilidade de não ter”. Na tarde deste sábado, Grace disse que passaram a mãe para “um condensador que produz oxigênio”. Segundo ela, não supre a necessidade, mas é uma alternativa para economizar. “É uma escolha difícil mas sem nenhum oxigênio ela não aguenta”, disse. O aumento de novos casos da Covid-19 fez com que a demanda por oxigênio chegasse a 76 mil m³ diários no Amazonas. Em meio a falta de oxigênio, a polícia já apreendeu 45 cilindros de um barco em Manaus e 33 cilindros escondidos numa empresa. |
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15/01/2021 03:08 |
Ethel Maciel: “Vai estourar em outros estados” e vacina da Covid-19 é a “melhor estratégia” para diminuir transmissão
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![]() ![]() ![]() A enfermeira e doutora em epidemiologia Ethel Maciel comentou com tristeza as notícias de que, ontem (14), hospitais inteiros de Manaus se viram sem oxigênio para tratar pacientes de Covid-19: “É uma situação desesperadora”, afirmou em entrevista à Agência Pública. Ela alerta que o aumento de óbitos pela doença na cidade – onde o sistema de saúde colapsou pela primeira vez no começo da pandemia, entre abril e maio do ano passado – é um sinal do que pode ocorrer em outras partes do país, como em São Paulo, onde tanto a capital quanto cidades do interior já registram alta de mortes em decorrência do coronavírus. “Nesta pandemia, o que aconteceu primeiro em Manaus sempre aconteceu depois no resto do Brasil. Manaus sempre está na frente e depois a gente vai seguindo”, destaca. Professora titular da Ufes, ela diz que a vacinação é a melhor saída para restringir a circulação do vírus. “Se demorarmos um ano inteiro para atingirmos a cobertura vacinal, passaremos 2021 todo de um jeito muito semelhante a 2020.” ![]() Ontem (14), pesquisadores da Fiocruz-Amazônia, profissionais de saúde de Manaus e o próprio reitor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que administra o Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), disseram à imprensa que hospitais da cidade estão completamente sem oxigênio hospitalar. Isso é um prenúncio do que pode acontecer em outros lugares do Brasil? É uma situação desesperadora. Vi um vídeo e quase passei mal, que coisa triste. O pior é que foi avisado, foi anunciado, todo mundo sabia que ia acabar. É muita incompetência. Nesta pandemia, o que aconteceu primeiro em Manaus sempre aconteceu depois no resto do Brasil. Manaus sempre está na frente e depois a gente vai seguindo. Provavelmente é essa nova variante, que é muito mais agressiva e estamos vendo, inclusive, casos de reinfecção. A pergunta que não quer calar é: quais os estoques de oxigênio dos outros estados, o que temos efetivamente para enfrentar essa segunda onda? EPIs, o que foi comprado, a gente está preparado? Vai estourar em outros estados. Estamos cometendo os mesmos erros, e os outros estados também estão achando que não vai acontecer com eles. Vimos o que aconteceu na Europa [no início de 2020], achamos que não aconteceria aqui, ocorreu em Manaus primeiro e depois no resto do Brasil. Vimos a segunda onda na Europa, pensamos que não se repetiria aqui, acontece em Manaus primeiro e daqui a pouco se replica no resto do país. A história é a mesma, a pandemia tem sido consistente. Temos que ficar em alerta porque vai acontecer em outros estados, já estamos vendo São Paulo, tem vários lugares onde estão aumentando o número de casos e mortes. Está na nossa frente a coisa acontecendo, e não sei por que a gente não acredita. É um despreparo [dos gestores públicos], porque nesse momento, depois de um ano, já deveríamos ter aprendido. A Anvisa marcou para o próximo domingo a reunião em que serão discutidos os pedidos de uso emergencial das duas vacinas a que o Brasil tem acesso até agora: a Coronavac e a Oxford/AstraZeneca. Na sua avaliação, para além da aprovação da Anvisa, quais são os maiores problemas para que a vacinação em nível nacional seja iniciada? O grande problema é a nossa dificuldade com insumos – há alguns dias, o Ministério da Saúde respondeu ao STF que alguns estados não têm seringas [suficientes para iniciar a vacinação]. Há também uma dificuldade em termos a produção das doses da vacina na velocidade necessária. Temos 2 milhões de doses que vão chegar da Índia [da vacina Oxford/AstraZeneca] e outras 6 milhões que estão em São Paulo [da vacina Coronavac], o que não daria nem para vacinar os trabalhadores da saúde, já que precisaremos de duas doses de cada vacina para cada pessoa, e eles somam mais ou menos 5,5 milhões no Brasil. Na semana passada, o Instituto Butantan e o governo de São Paulo divulgaram que a taxa de eficácia da Coronavac era de 78%. Uma semana depois, após a pressão de cientistas e pesquisadores, o órgão deu outro número de eficácia global: 50,38%. Qual a diferença entre esses dois dados? Os números são todos corretos, mas se referem a coisas diferentes. Quando falamos de eficácia global, estamos nos referindo ao objetivo principal da vacina: que ela diminua qualquer sintoma da doença, inclusive os leves, como uma dor de cabeça ou aquela sensação de arranhão na garganta. Comparando o grupo dos vacinados com o grupo que não foi vacinado, o primeiro teve uma redução de 50% – estou arredondando – no número de pessoas que apresentaram sintomas leves. Se olhamos os números, é mais ou menos como se no grupo dos vacinados apenas duas pessoas tivessem apresentado esses sintomas, e no grupo do placebo, quatro. Reduzimos pela metade a possibilidade de ter qualquer sintoma, o que é muito bom, porque a vacina é uma estratégia de saúde pública que tem que ser feita em larga escala e que vai impactar a nossa curva de transmissão. Sobre o outro número: os pacientes que iam precisar de uma consulta médica, fazer um raio-x ou uma tomografia tiveram, no grupo que tomou a vacina, uma redução de 78%. Isso é muita coisa: houve uma redução expressiva das pessoas que precisaram de algum serviço de saúde, de assistência especializada. Em escala nacional, isso significa desafogar o serviço de saúde. No caso das internações, no grupo que tomou a vacina ninguém precisou, e no grupo dos não vacinados foram sete pessoas. Eles deram aquele número de 100%, e ainda que a gente não tenha certeza, porque foi um número pequeno [de pessoas], já é um alento saber que no grupo de quem tomou a vacina ninguém precisou de hospitalização. Pensando no Brasil como um todo, será um ganho excepcional a gente diminuir a gravidade dessa doença. O Butantan errou na estratégia de comunicação? Acho que sim. Tivemos três coletivas, quando precisava ter tido apenas uma para não gerar esse monte de números e confusão. Já estamos num momento de muita politização e a forma que eles escolheram para fazer isso acabou gerando mais dúvida. Aí as pessoas ficam com uma suspeita desnecessária, porque o Butantan é uma instituição super séria, que fez uma pesquisa muito bem conduzida, mas na hora da comunicação primeiro fizeram uma reunião em que não tinha dado, depois, uma segunda reunião com o dado incompleto e, por fim, uma terceira reunião para falar o que devia ter sido dito em uma reunião só. O Butantan tem batido muito na tecla de que os estudos clínicos da Coronavac no Brasil foram realizados com profissionais de saúde, um dos grupos mais expostos ao coronavírus. Isso de fato diferencia a Coronavac de outras vacinas e pode ter impactado os resultados de eficácia? Pode sim. Temos que pensar que esse estudo foi feito no Brasil, onde sempre tivemos muitos casos, diferente de outros países que, no verão, viram uma diminuição dos casos, como aconteceu na Europa, por exemplo. Nunca controlamos a pandemia e os profissionais de saúde estão sob muito risco. Isso pode ter alterado: são pessoas que tiveram mais possibilidades de entrar em contato com o vírus. Numa população sem profissionais de saúde, essa vacina pode ter uma eficácia maior, por conta do intervalo de confiança [calculado pelos pesquisadores]. Uma pessoa que não é profissional de saúde tem chance muito menor de encontrar com alguém que está transmitindo o vírus. Faz sentido essa lógica de um estado começar a vacinar antes que os demais? Que consequências isso pode acarretar? Seria muito ruim isso, até porque há uma mobilidade muito grande no nosso país, não só de produtos, mas de pessoas. Precisamos fazer uma estratégia coordenada para que tenhamos a tranquilidade de que a pandemia será controlada de forma global, porque, se um lugar fica sem vacina, pode haver mutações do vírus – estamos acompanhando o que aconteceu em Manaus – capazes de prejudicar a nossa estratégia de controle. E não só a nossa, como a do mundo. ![]() Em relação às mutações, especialistas dizem que as vacinas contra Covid já aprovadas e aplicadas em alguns países são eficazes contra a nova variante britânica, pelo menos. Há possibilidade de novas cepas se mostrarem resistentes às vacinas desenvolvidas até o momento? Como diminuir as chances de que isso ocorra? Cada vez que o vírus é transmitido, ele vai realizando replicações e tendo a chance de fazer essas mudanças. A gente combate isso diminuindo a transmissão. Podemos fazê-lo com distanciamento social, o que infelizmente não conseguimos aplicar muito bem, então a vacina seria a nossa melhor estratégia para diminuir essa transmissão. E, mesmo que tenhamos uma cobertura vacinal grande, ainda teremos que usar máscaras e continuar com as medidas de prevenção. Na sua avaliação, com o início da vacinação, quanto tempo será necessário até que possamos voltar a viver de maneira minimamente semelhante a antes da pandemia? De quais fatores isso depende? Com as vacinas que a gente tem, precisaremos vacinar muito mais pessoas, pois, quanto menor a eficácia, maior tem que ser a cobertura. Por isso, acho que o nosso desafio vai ser grande, teremos que convencer as pessoas a se vacinarem. O plano diz que precisaremos vacinar 70% da população, mas isso pensando numa outra eficácia, essas contas precisam ser revistas. Se demorarmos um ano inteiro para atingirmos a cobertura vacinal, passaremos 2021 todo de um jeito muito semelhante a 2020. Isso dependerá da cobertura vacinal [necessária] e do tempo que gastaremos para fazer isso. Muito se diz que não adianta ter vacina se as pessoas não se vacinarem. Na sua avaliação, qual deveria ser a estratégia do Ministério da Saúde na comunicação sobre a necessidade da vacinação? Acredita que isso possa acontecer, dadas a postura e as declarações antivacina do ministro da Saúde e do presidente da República? Falei dos desafios e da produção, mas acho que nosso maior desafio vai ser convencer as pessoas a se vacinar com tantas informações desencontradas. A campanha de vacinação do Governo Federal já deveria estar na praça, já deveríamos saber do que se precisa e como é que vai ser feito. E já deveríamos ter uma campanha [de comunicação] antes de começar a campanha [de vacinação]. Ao que tudo indica, vamos começar a vacinação na semana que vem e não temos nem uma peça circulando, é muito ruim. É lamentável essa situação que estamos vivendo. Num momento de dificuldade, em que precisamos de união de esforços, estarmos com essas narrativas desencontradas que fazem um desserviço e pregam inclusive a não vacinação. O governo está fazendo um desserviço muito grande à população e ao país. No plano de vacinação, está escrito que vão fazer [a campanha de comunicação], mas já estamos atrasados. Nesse sentido, contar com a estrutura de vacinação bem articulada e capilarizada do SUS pode ser um adianto ou ainda assim teremos dificuldades? Não tenho preocupação em relação à execução, porque os estados e municípios estão bem organizados e têm capilaridade grande – somos o único país do mundo que consegue vacinar, no mesmo dia, 10 milhões de pessoas, a gente sabe fazer. O problema que eu vejo é termos as doses, porque, quando se vacina uma pessoa, é preciso já ter a segunda dose para ela. Será a nossa primeira grande campanha com duas doses. Mas, se não tivéssemos o SUS, estaríamos numa situação muito pior. É só olhar para os Estados Unidos e ver a lentidão que eles enfrentam para vacinar, mesmo tendo vacina, porque eles não têm um sistema público como o nosso. É diferente de Israel, que está bem adiantado e tem sistema público. Em seu Relatório Mundial 2021, divulgado nesta semana, a ONG Human Rights Watch avalia que Bolsonaro “sabotou” as medidas contra a disseminação da Covid-19 no Brasil e foi contido em alguns momentos pelas instituições do país, como o STF. Você concorda com esse diagnóstico? Infelizmente, sim. Começou com a “gripezinha”, depois veio a questão do não uso da máscara, aí veio a questão de que precisava abrir tudo, senão a economia ia quebrar. Cada hora foi uma luta, e agora chegamos à luta derradeira da vacina, que [quem tomar] vai virar jacaré. Eu diria que sim [as instituições conseguiram conter o presidente em alguns momentos], acho que a gente conseguiu, mas de forma tímida diante do tamanho do estrago de algumas declarações e posturas. O balanço foi negativo. Como tem sido a relação com o Ministério da Saúde após a divulgação, em dezembro, de uma versão não revisada do Plano Nacional de Imunização contra a Covid-19 com a assinatura de vários pesquisadores, entre eles a senhora? O Ministério da Saúde está de fato aberto a ouvir as opiniões de especialistas externos? Nunca havíamos visto aquele documento. Algumas pessoas cujos nomes estavam lá, que haviam sido indicadas pela Abrasco [Associação Brasileira de Saúde Coletiva], sequer tinham participado de qualquer reunião. Não foi o meu caso: eu participei da reunião sobre os grupos prioritários da vacinação, só que o que a gente discutiu era diferente do que estava escrito. Nossos nomes constaram lá como “elaboradores”, mas é muito diferente você elaborar algo do que você opinar e a sua opinião não ser acatada. Só colocaram o nosso nome para dar credibilidade. Como foi passar pela situação, em março do ano passado, de ter sido a mais votada entre a comunidade acadêmica da Ufes para assumir a reitoria e ainda assim não ser escolhida pelo presidente Bolsonaro? Na sua avaliação, por que você não foi escolhida? Não fui escolhida porque sou ativista pelos direitos humanos e feminista, defendo os direitos reprodutivos das mulheres e inclusive a descriminalização do aborto – e disse isso em várias manifestações, na Câmara de Vereadores, na Assembleia Legislativa. Eu era vice-reitora, ele não podia nem falar que não me colocaria porque foi uma gestão ruim, já que nós entregamos a universidade com todas as contas pagas. Tanto que ganhei com quase 70% dos votos da comunidade [acadêmica] toda, e na formação da lista tríplice ganhei também. Na verdade, eu represento o que esse governo persegue. Foi uma decisão ideológica. |
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15/01/2021 01:00 |
Podcast: Nega-te a ti mesmo — exorcismos e tortura psicológica nas terapias de reversão sexual
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![]() ![]() ![]() No episódio de retorno do podcast conversamos com o repórter Bruno Fonseca e a repórter Mariama Correia, que produziram reportagens para o especial lançado em dezembro de 2020 no site da Agência Pública, feito em parceria com jornalistas de diversos países da América Latina, sobre a prática de terapias que buscam reprimir a sexualidade de pessoas LGBTQI+. Além de trazer detalhes de como foi se infiltrar em congressos cristãos e realizar toda essa apuração, o papo ainda mostra como foram as decisões jornalísticas para se apurar um tema tão sensível. Ouça agora no Spotify, Deezer, Spreaker e Youtube. Ficha técnica Apresentação: Andrea Dip e Thiago Domenici |
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14/01/2021 02:00 |
Opus Dei, a herdeira investigada
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![]() ![]() ![]() Em 16 de outubro de 2008, o telefone tocou na casa de María Elena Abazo, na cidade de Buenos Aires. Seu tio, Francisco Noreiko, de 81 anos, havia capotado a caminhonete enquanto dirigia pela rota 11 na cidade de Salta, na Argentina, até sua fazenda em La Caldera. Quando a família recebeu a notícia, já haviam se passado 15 dias desde o acidente. Francisco estava paraplégico e imobilizado devido a fraturas na coluna e não conseguia falar. Nem María Elena nem sua mãe, Yanina Norekaite – irmã do acidentado –, conheciam o homem que deu a notícia. Ele se apresentou como um amigo, disse se chamar Alfredo Montanaro e contou que tinha sido testemunha do acidente. O que não disse foi que, enquanto permanecia internado no hospital e poucos dias antes de falecer, Noreiko havia assinado uma procuração de amplos poderes para a administração de todas as suas contas e bens em nome dos membros do Opus Dei Matías Amat Lacroix e Mariano Busaniche Iturrasp e que seus seis imóveis e terras tinham sido doados à Asociación Cultural del Norte (ACN), uma associação civil ligada ao Opus Dei. O escrivão Carlos A. Baldi, que produziu a procuração e as declarações de doação, disse depois: “[o documento foi entregue] com a impressão digital do dedo polegar direito do sr. Noreiko e a assinatura de pessoas que estavam no hospital como testemunhas […]. Não sei se o signatário pediu ou se uma das testemunhas levantou a mão dele e a colocou nas folhas da escritura, não lembro especificamente, mas foi um deles”. “Foi assim que começou o pesadelo da nossa família contra o Opus Dei, que já dura mais de 11 anos”, conta Sebastián Rizzo, sobrinho-neto de Noreiko, à reportagem, produzida pela revista Anfibia em parceria com a plataforma latino-americana de jornalismo Connectas. Desde 2009, a família empreende uma batalha judicial para pedir a “nulidade” das declarações de doação e a investigação de uma possível fraude. Os familiares escreveram uma carta detalhando os acontecimentos, que entregaram na sede principal do Opus Dei na Argentina e fizeram chegar até o atual papa Jorge Mario Bergoglio quando este ainda era cardeal na cidade de Buenos Aires. Na carta, denunciavam suas suspeitas sobre o Opus Dei. Além das pessoas envolvidas na assinatura dos documentos, a família apresenta queixas contra a Prelatura da Santa Cruz e o Opus Dei e contra o arcebispo de Salta, monsenhor Mario Cargnello, “que deve responder pelo Opus Dei, uma de suas organizações, assim como pelos atos de seus integrantes”, afirma o advogado da família, José Fernando Chamorro, que está há 11 de seus 79 anos nesse caso. ![]() A Asociación Cultural del Norte não dá explicações. Seu membro Matías Amat Lacroix responde às ligações no telefone da organização, mas diz que não quer falar sobre o caso, que tudo aconteceu há muito tempo e que é o advogado Carlos Cornejo quem sabe. Este não atende as ligações nem responde às mensagens. Na Justiça de Salta, uma pessoa consultada que não quis se pronunciar oficialmente informou que ninguém falaria sobre o caso em nome da instituição. “Esse caso tem todas as provas necessárias e todas as travas que se possa imaginar: [pessoas envolvidas] não se apresentaram para prestar depoimento, depois se negaram a depor e três vezes em que deviam depor a luz foi cortada, partes do expediente foram perdidas algumas vezes e o caso foi mudado de juizado três vezes”, diz Chamorro. O Opus Dei enfrenta processo similar envolvendo os sobrinhos de uma mulher milionária. María Luisa Gianoli tem 85 anos, nenhum filho e um patrimônio declarado em cerca de US$ 20 milhões, mas estimado em cinco vezes mais. Ela passou por várias internações psiquiátricas ao longo da vida e está há pelo menos uma década internada em uma clínica especializada em Montevidéu, no Uruguai, por declínio cognitivo. Quando morrer, a maior parte de sua fortuna irá para a Asociación Cultural y Técnica, umas das principais associações civis ligadas ao Opus Dei no país. Atualmente, um grupo de sobrinhos de María Luisa, da família Gatica Gianoli, encabeçou uma denúncia contra uma outra tia, Elina Gianoli, membro do Opus Dei e a quem acusam perante a Justiça uruguaia de manipular a irmã, incapacitada pela sua condição mental, para que ela deixasse sua fortuna para a ordem. Os sobrinhos afirmam que sua mãe, Carmen Gianoli (já falecida), deveria ter recebido parte da fortuna da família, iniciada pelo avô Cirilo Gianoli há um século, no Chile, com fundação da empresa Molibdenos y Metales (Molymet), a principal processadora de molibdênio do mundo até hoje. “O Opus Dei faz parte da nossa vida desde que nascemos”, conta Felipe Gatica Gianoli, um dos mais jovens entre os sobrinhos que reivindicam a herança. “Nossa casa em Santiago, onde crescemos, foi a primeira casa de mulheres da Obra no Chile, porque nossa avó deu início à ramificação feminina do Opus Dei lá, e depois também em Montevidéu.” “A tia María Luisa sempre esteve doente. E quando nossa avó, que era quem cuidava dela, morreu, a tia Elina foi quem se encarregou de tudo e administrou seu patrimônio. Nós todos sabíamos que ela era incapaz, como consta no histórico clínico dela”, completa Tomás Gatica Gianoli, outro dos irmãos. Em 2009, Elina e seus outros irmãos solicitaram a interdição de María Luisa Gianoli, com um diagnóstico de psicose esquizofrênica desde sua juventude, e Elina foi nomeada sua tutora em 2010. Em 2016, com a publicação da segunda edição do livro O império do Opus Dei no Chile, da jornalista chilena María Olivia Mönckeberg, os sobrinhos ficaram sabendo não só que a fortuna da família era muito maior, mas também que o quebra-cabeças de empresas e movimentações financeiras era permeado de membros no Chile e no Uruguai, e que boa parte do dinheiro já tinha ido parar nas mãos da Obra por meio de diversas doações. Os sobrinhos alegam que pelo menos oito das mais de 14 doações milionárias feitas por María Luisa Gianoli nos últimos anos a instituições associadas ao Opus Dei foram feitas enquanto ela estava internada em uma instituição psiquiátrica. Em dezembro de 2017, a justiça uruguaia exonerou Elina e nomeou um tutor interino, que está revisando todas as contas de María Luisa para reconstituir seu patrimônio original. No entanto, o processo pela definição de sua herança continua em andamento (para saber mais sobre essa história, clique aqui). Em 2019, os irmãos Gatica Gianoli conseguiram uma audiência com o Opus Dei. Eles foram recebidos pelo sacerdote Fabricio Melchiori, vicário delegado para Buenos Aires, na presença dos advogados. “Este é um assunto familiar. O Opus Dei não se responsabiliza pelo que seus membros fazem”, respondeu a eles o vicário Melchiori. Foi o mesmo que disseram à família de Francisco Noreiko. Ainda que sejam os únicos processos judiciais, não são os únicos casos em que foi questionada a forma como instituições do Opus Dei acabam herdando patrimônios. Gustavo, ex-membro que atualmente é um reconhecido advogado em Buenos Aires, relata que “havia um sacerdote que identificava pessoas idosas com dinheiro e sem herdeiros entre os colaboradores, especialmente entre as colaboradoras. E então nos mandavam fazer visitas a elas, tomar um chá. Nós as acompanhávamos em sua velhice e as convencíamos de que o melhor era deixar suas propriedades para a Igreja”. Gustavo é um dos autores do documento “Aspectos críticos da práxis do Opus Dei”, que, assinado por uma dezena de ex-membros argentinos em 2014, foi entregue também às maiores autoridades da Igreja em Buenos Aires e ao papa Francisco. Também são numerosos os relatos de ex-membros que afirmam que, assim que entram no Opus Dei, as pessoas devem assinar um testamento em favor de alguma associação da Obra. Lucrecia, que pediu para ser identificada com um pseudônimo nesta reportagem, relata que foi pressionada a deixar a terra da família para a Obra. “Diziam-me: ‘Se você se casa, não deixaria sua herança para seu marido e seus filhos? Agora sua família é a Obra.'” (Leia a história de Lucrecia.) Um relato similar é feito por María Cecilia – também um pseudônimo –, que recorda que, quando se tornou membro da ordem aos 21 anos, fizeram que ela escrevesse e assinasse um documento com a seguinte frase: “Estabeleço como herdeiro universal sem limitação de qualquer gênero a Asociación para el Fomento de la Cultura”. Caso queira conhecer em profundidade mais histórias sobre as polêmicas em torno do Opus Dei, veja a investigação completa aqui. A reportagem tentou contatar o Opus Dei em diversas ocasiões para ouvir sua versão sobre os processos judiciais, mas a ordem se negou a dar entrevista. |
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13/01/2021 03:03 |
Sem fiscalização, agrotóxico vira arma para violência doméstica
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![]() ![]() ![]() Agrotóxicos foram usados como armas em 305 casos de tentativa de envenenamento com pesticidas na última década, de acordo com dados do Sistema de Agravos de Notificação (Sinan). Em 77% dos casos a violência ocorreu dentro de casa. O levantamento exclusivo da Agência Pública e Repórter Brasil revela um desvio no uso dos produtos agrícolas, que estão sendo utilizados para matar e ameaçar pessoas. Houve 32 homicídios com os produtos nesse período. Os dados do Ministério da Saúde foram obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) e mostraram ainda que o agrotóxico mais usado nos casos de violência está banido no país desde 2012. Trata-se do Aldicarbe, popularmente conhecido como chumbinho e usado ilegalmente como veneno de ratos. Além dele, mais 22 tipos de agrotóxicos foram usados para a prática de agressões, como os herbicidas Glifosato (15%) e Picloram (14%), substâncias permitidas no Brasil, mas altamente tóxicas. O perfil das vítimas não foge ao que se tem observado nos últimos anos em relação às mortes violentas no Brasil: pessoas pretas e pardas, jovens e que não chegaram a completar o ensino fundamental. ![]() Os dados estão longe de representar a realidade. Além de problemas no processo de notificação — já que muitos casos são confundidos com suicídios — a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima que para cada caso notificado de intoxicação, existem outros 50 não computados. Especialistas consultados pela reportagem avaliam que muitos casos não chegam à polícia, pois não são registrados como violência ou tentativa de homicídio. Outro grande problema é que a falta de controle nas vendas dos agrotóxicos facilita o acesso e impede de rastrear o comprador. E no caso dos produtos proibidos como o Aldicarbe, que seguem sendo vendidos ilegalmente no Brasil, é ainda pior. ![]() “Os dados levantam vários debates urgentes, mas principalmente a ausência de um sistema de controle destes receituários agronômicos, que permitiria rastrear quem comprou, vendeu e receitou o produto. Assim como identificar o passivo de substâncias proibidas existentes no país. No caso do Aldicarbe, será mesmo que o que tem sido consumido é mesmo a substância ou alguma outra mistura”, analisa a pesquisadora da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Karen Friedrich. No universo das intoxicações causadas por violência, o uso de agrotóxicos agrícolas é a segunda causa mais recorrente, com 32% dos casos. Os raticidas vêm em primeiro lugar (52%). Ao longo de 10 anos anos, o Sinan registrou 962 casos no total. Não estão inclusos os registros com uso de medicação. Aldicarbe no centro de duas tragédiasBanido no Brasil há quase uma década, o Aldicarbe ainda continua deixando vítimas. O agrotóxico foi retirado do mercado justamente pelo uso irregular e indiscriminado como agente abortivo e em tentativas de homicídio e de suicídio. No documento de banimento do produto, a Anvisa declarou que o Aldicarbe havia se tornado um “grave problema de saúde pública, de amplitude nacional, dada a facilidade que se tem a seu acesso, particularmente nos centros urbanos”. O documento ainda diz que até a época do banimento, cerca de 100 pessoas morriam envenenadas por aldicarbe a cada ano apenas no estado do Rio de Janeiro. De acordo com o Sinan, pelo menos 116 morreram envenenadas por Aldicarbe entre 2013 e 2019. Um desses casos ocorreu no Ceará em 2014. Cristiane Renata Coelho Severino foi condenada a 32 anos de prisão em regime fechado por ter envenenado o filho, uma criança autista de 8 anos. De acordo com a investigação da polícia civil, ela colocou Aldicarbe em uma mamadeira com sorvete de morango e deu à criança. Cristiane também foi acusada de tentar matar o ex-marido, o tenente do Exército Brasileiro Francilewdo Severino, que sobreviveu ao envenenamento após ficar por duas semanas em coma. Cristiane está presa desde 2015. Procurada, a família da vítima preferiu não comentar o caso. Em 2019, o Aldicarbe também esteve no centro de outra investigação criminal, desta vez em Brasília. O professor Charles de Albuquerque Silva, de 50 anos, morreu envenenado pelo agrotóxico. Em áudio enviado a um amigo antes de falecer, Charles alegou que uma colega de trabalho o teria envenenado com suco de uva durante uma reunião na escola onde trabalhavam. Após a reunião, ele passou mal e foi encaminhado ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Morreu após quatro dias internado. Exames realizados por equipes dos institutos de Medicina Legal (IML) identificaram resíduos de Aldicarbe no corpo do docente. Em outro áudio, Charles disse ao mesmo amigo que iria denunciar um esquema de desvio de dinheiro na escola em que trabalhava e da qual foi diretor por oito anos. Com isso, a Polícia Civil começou a investigar a possibilidade de homicídio, mas controversas no caso enfraqueceram a hipótese, como a inexistência de traços de suco de uva nas roupas do professor, falta de testemunhas, e a não comprovação da denúncia de desvio na escola. Foi investigada também a hipótese de suicídio. No final de junho, o Ministério Público do Distrito Federal pediu o arquivamento do processo por não ter sido “demonstrada a existência de crime doloso contra a vida”. ![]() Acesso fácil aos venenos e vulnerabilidade socialPara a socióloga Ana Paula Portela, especialista em violência, essas agressões, embora raras se comparadas com os demais tipos de violência doméstica, são facilitadas quando se tem disponíveis meios baratos, simples e mortais. É o caso do chumbinho, embora ilegal, facilmente encontrado nos camêlos e mercadinhos de bairro em todo o Brasil. “O meio não precisa ser legalizado para que esses crimes ocorram. Sabe-se que em cenários de muita precariedade, baixíssimo acesso a informações, escolaridade e serviços, a solução violenta de conflitos é facilitada e legitimada”, analisa a socióloga. De acordo com a Lei dos Agrotóxicos, a fiscalização do comércio desses produtos é de competência dos órgãos estaduais de agricultura. Após a aprovação do registro de um agrotóxico pelo Ministério da Agricultura, Ibama e Anvisa, a empresa que pretende comercializar o produto precisa ainda se registrar nos órgãos de agricultura estaduais. Já o consumidor é obrigado a apresentar o receituário agronômico emitido por profissional legalmente habilitado para comprar um agrotóxico. Ao cruzar os dados destes casos com o Índice Brasileiro de Privação (IBP), desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e que analisa as condições de desigualdade por setor censitário, municípios e estado, identificamos que das 193 cidades que registraram casos de violência por envenenamento, 60% estão classificadas com nível alto ou muito alto de privação, ou seja, cidades onde as condições de acesso da população a educação, nível de renda e condições de moradia são precárias. Em uma escala que vai de 1 a 5, onde a menor medida significa baixas condições de privação, enquanto que as categorias mais elevadas representam altos níveis de desigualdade social, 60% das cidades com casos de violência por envenenamento possuem IBP alto ou muito alto. Embora a maioria dos casos tenha ocorrido nas zonas urbanas das cidades, apenas nove capitais estão entre as 193 cidades que registraram esse tipo de violência. A incidência maior está em cidades com menos de 100 mil habitantes e localizadas longe das grandes metrópoles. “Os municípios mais vulneráveis são os mais atingidos”, analisa a epidemiologista e vice-coordenadora do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz), Maria Yuri Ichiara. “Há ainda possíveis problemas de saúde, condições psicológicas e materiais que podem estar levando essas pessoas a cometer determinados tipos de violência”. ![]() Recife lideraRecife é a cidade com maior registro de casos de violência por envenenamento, com 24, e a quarta com maior incidência deste tipo de violência, com 1 caso a cada 100 mil/habitantes — fica atrás apenas de Jataí (GO), Iguatu (CE) e Vitória (ES). De acordo com o Relatório de Comercialização de Agrotóxicos do Ibama de 2019, Pernambuco é apenas o 16º estado que mais utiliza pesticidas no país, com os pesticidas 2,4-D e Glifosato na liderança. Segundo a Agência de Fiscalização Agropecuária do Estado de Pernambuco (Adagro), responsável por fiscalizar a revenda de agrotóxicos, o uso inadequado dos produtos é considerado crime e gera punição tanto para o comerciante que vende o agrotóxico quanto para o usuário que o compra. “É lavrado o auto de infração com o termo de apreensão e os produtos são encaminhados a delegacia para abertura de inquérito contra a saúde pública. A equipe pode solicitar ainda a interdição temporária do estabelecimento, com multa inicial de R$ 500 a R$ 5.000”, informou o órgão. Porém, a fiscalização no comércio informal só ocorre em casos de denúncias, recebidos pela ouvidoria do órgão. O procedimento é seguido pela maioria das Vigilâncias Sanitárias e dos órgãos de fiscalização federal, como Mapa e Ibama. De acordo com a Adagro, foram feitas mais de mil fiscalizações em Pernambuco de uso e comércio de agrotóxicos em 2019, e quase a metade ocorreram em propriedades rurais. Dos 24 casos de Recife, apenas dois não ocorreram em casa. Em todos os envenenamentos que conseguimos mapear a substância, pois várias células não continham informações, o Aldicarbe foi a única registrada.A principal faixa etária das vítimas é entre 20 e 53 anos (10 ocorrências) sendo 50% homens e 50% mulheres. Dentre os registros que ocorreram dentro das residências, uma das vítimas era uma menina de 4 anos de idade, que morreu envenenada em abril de 2018. |
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12/01/2021 02:41 |
Microbolsas mineração
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![]() ![]() ![]() A 12ª edição das microbolsas, promovida pela Agência Pública em parceria com o Comitê em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, selecionou reportagens investigativas sobre a mineração no Brasil. |
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08/01/2021 08:52 |
Nas redes, influenciadores bolsonaristas investigados por atos antidemocráticos apoiam invasão do Capitólio nos EUA
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![]() ![]() ![]() “A população conservadora no mundo está de olho no que está acontecendo ali e de fato isso vai impulsionar muito”, alertou o youtuber Italo Lorenzon durante a cobertura do canal Terça Livre sobre as manifestações de apoiadores de Donald Trump em Washington DC. “Esse vai ser um ano de grandes manifestações. Podem escrever o que eu estou dizendo”, continuou. O canal é um dos investigados pelo Supremo Tribunal Federal em inquérito que apura a organização de atos contra instituições democráticas brasileiras em meados de 2019. Na última quarta-feira (06/01) eles apoiaram também a invasão ao Congresso norte-americano por parte de apoiadores de Donald Trump. Eles pediam pela recontagem de votos sob a falsa acusação de fraude eleitoral. Além do Terça Livre, outros 30 perfis investigados endossaram as manifestações nos EUA, com lives e postagens inflamadas no Twitter, segundo levantamento da Agência Pública. Desses, sete são políticos da base de Bolsonaro. O levantamento também identificou que mensagens de apoio à invasão ao Capitólio tomaram conta de grupos de WhatsApp bolsonaristas. “Aqui no Brasil temos que fazer como os americanos, ir pra rua e pedir fora STF”, diz uma das correntes. ![]() Conflito importadoEm uma live que durou mais de oito horas, o canal de Fernando Lisboa, em parceria com o canal Vida Gringa, fez uma cobertura das manifestações pró-Trump em Washington. “COBERTURA COMPLETA: O Dia Mais importante começou em Washington D.C”, era o título do vídeo que foi posteriormente excluído pelo próprio canal, que é investigado por associação a atos antidemocráticos no Brasil. Lisboa também comentou os acontecimentos através de seu Twitter, retuitando mensagens (inclusive de Donald Trump) que acusavam as eleições de fraude, e associando Joe Biden a comunistas e anarquistas. O youtuber chegou a publicar imagem da guerra da secessão norte-americana com bandeiras dos estados confederados, cuja principal pauta era a não abolição da escravidão no país. Também investigado, o canal Universo, de Roberto Boni, fez uma live com Maurício Galante, um empresário brasileiro que tem um campo de golfe nos EUA, sobre a invasão do Capitólio. Na live, que teve 13.683 visualizações, Maurício afirmou que a eleição norte-americana foi fraudada. “Tem meio milhão de votos mandados pelos correios e os estados não querem autorizar fazer a verificação dessas assinaturas”. Em outro trecho, diz: “A Suprema Corte tá se calando para o maior roubo da história. Pelas evidências”. No Twitter, o influenciador Bernardo Küster também sugeriu que houve fraude. Com uma imagem da multidão apoiadora de Trump questionou: “Quem ganhou as eleições americanas?”. Já o Terça Livre dedicou oito vídeos à cobertura dos acontecimentos nos EUA, além de postagens no site e redes sociais. O youtuber Allan dos Santos, fundador do canal, fez a cobertura direto de Washington, enquanto outros colaboradores do canal comentavam em uma bancada de Brasília. Entre eles, era consenso que as eleições americanas foram fraudadas, mesmo sem evidências. ![]() Em certo momento, o comentarista Max Cardoso comparou a situação com o Brasil: “O que de fato é certo é que as pessoas estão revoltadas com a fraude que está acontecendo e com todo o cinismo desses políticos. Só que aqui as pessoas estão mais acostumadas com esse tipo de cinismo. Lá parece que eles não estão dispostos a deixar que levem isso adiante, essas fraudes.” Enquanto isso, nos comentários dos vídeos, usuários pediam que a situação de Washington se repetisse em terras brasileiras: “Vamos invadir o STF. Quem topa?”, sugeria um dos comentários. ![]() 50 grupos de WhatsAppA reportagem identificou mensagens de apoio aos americanos pró-Trump em mais de 50 grupos públicos de WhatsApp que reúnem apoiadores do presidente. “A China dominará o mundo com ajuda do esquerdista Biden”, dizia uma das correntes. Outras traziam os acontecimentos americanos para o contexto brasileiro: “Ou apoiamos Bolsonaro ou teremos que aprender chinês”. ![]() Para o pesquisador de mídias digitais, David Nemer, através das redes sociais, os bolsonaristas “trouxeram o conflito americano para o Brasil”. “Eles trouxeram isso como se fossem especialistas já falando que é fraude, que é um atentado contra a democracia, contra o Trump e tal, para um público que não seria muito interessado, mas acabou ficando interessado porque eles criaram essa guerra retórica”, disse. A intenção seria manter a base de seguidores agitada. “Se não tem ninguém energizado ninguém vai entrar no Youtube deles, ninguém vai fazer nada no canal deles para consumir. O caos faz isso, por isso que eles o promovem”, explicou. De acordo com Nemer, os manifestantes que em 2020 protestaram contra o Supremo e o Congresso Nacional “foram motivados e continuaram sendo motivados pelos deputados e por esses blogueiros [bolsonaristas]”. Deputados federais elogiam invasãoNa última quarta-feira, os deputados Bia Kicis, Carla Zambelli, Caroline De Toni, Daniel Silveira, General Girão e Paulo Eduardo Martins – todos indiciados por associação a atos antidemocráticos no Brasil – demonstraram apoio à invasão do Capitólio por parte dos conservadores americanos, sugerindo que houve fraude nas eleições dos EUA. “Diante das fortes evidências de que fraudaram as eleições americanas, o povo americano, tomado de um sentimento de justa indignação e inconformismo, hoje, no dia da certificação das eleições, realizou um grande protesto e este, infelizmente, descambou em violência”, publicou De Toni. “Quando esses políticos assumem esse papel e começam a fazer esses pronunciamentos oficiais as pessoas acabam tomando isso não como uma ordem, mas como um ato de organização, é como se estivessem institucionalizando o protesto”, critica Nemer. Ministro Barroso é visto como vilão“Se nós não tivermos o voto impresso em ’22, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos”, afirmou o presidente Bolsonaro no dia seguinte aos acontecimentos no país norte-americano. A fala do presidente engajou os influenciadores no contexto da invasão ao Capitólio, que já sugerem que as próximas eleições para presidente serão fraudadas. “Oi Brasil, tá vendo o que tá rolando com Trump? Pois é, se preparem, 2022 será bem aqui em terras de tupiniquim”, tuitou a influenciadora Bárbara Zambaldi, do canal Te Atualizei, logo depois da declaração de Bolsonaro. Ela é investigada como parte de “um mecanismo coordenado de criação e divulgação” de notícias falsas, segundo inquérito do STF. “Pelo andar da carruagem a melhor coisa a fazer é nem votar mais”, sugeriu o influenciador bolsonarista Leandro Ruschel, também investigado por disseminação de desinformação. Allan Lopes, do Terça Livre, usou o momento para relembrar a acusação de fraude em 2018. Afirmou que defender que Biden venceu as eleições, seria “a mesma coisa de você tentar me convencer que Haddad teve 47 milhões de votos em 2018”. Biden já foi certificado como presidente e as fraudes nas últimas eleições presidenciais estão descartadas. No WhatsApp circularam correntes e até figurinhas pedindo pelo voto impresso. “2022 não vai prestar! voto impresso já!” ![]() O pesquisador Viktor Chagas, da Universidade Federal Fluminense (UFF), monitora grupos de WhatsApp e redes bolsonaristas desde 2018. Para ele, a narrativa pelo voto impresso vem sendo construída com foco no futuro e pode ser usada para “deslegitimar o resultado das urnas, em uma possível derrota de Bolsonaro”. Outra narrativa que vem com a falsa acusação de fraude são ataques ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o ministro Luís Roberto Barroso. “Esses blogueiros têm o Barroso como um vilão”, diz David Nemer. Depois da invasão ao Congresso norte-americano, que colocou novamente o tema em pauta, o ministro voltou a ser alvo de ataques. O magistrado se pronunciou em seu Twitter sobre os acontecimentos chamando de “ameaça à democracia”. Em resposta, bolsonaristas acusaram o ministro de parcialidade e associação com a esquerda. “Ministro só reclama quando acontece algo na direita”, acusou a deputada Carla Zambelli. ![]() David Nemer analisa que um dos objetivos principais dos blogueiros bolsonaristas é “justamente já ir preparando para 2022.” “Se Bolsonaro perder as [próximas] eleições eles não vão aceitar, vai acontecer a mesma coisa”, prevê. “Censura” nas redesApós o Twitter, Facebook e Instagram imporem restrições a conteúdos com falsas alegações sobre as eleições, a começar pela conta oficial do presidente Donald Trump, bolsonaristas criticaram as medidas das plataformas para evitar a disseminação de desinformação. “Estamos vivendo um período em que a liberdade de expressão é um privilégio da esquerda”, acusou Alan Lopes, um dos participantes das lives do Terça Livre sobre os acontecimentos nos EUA, no Twitter. “Jack Dorsey (CEO do Twitter) e Zuckerberg (CEO do Instagram e Facebook) já não escondem que são comunistas”, dizia uma corrente de WhatsApp. ![]()
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05/01/2021 02:22 |
YouTube de Bolsonaro leva a canais investigados no STF por desinformação e atos antidemocráticos
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![]() ![]() ![]() Quem assiste ao canal oficial de Jair Bolsonaro no YouTube pode ser levado a vídeos de apoiadores do presidente que disseminam desinformação sobre a pandemia de coronavírus, publicam conteúdos contra as instituições e são investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por associação a atos antidemocráticos. Essa é a conclusão de um levantamento da Agência Pública a partir dos dez vídeos com mais visualizações do canal do presidente em 2019 e 2020. Juntos, esses vídeos somam mais de 10 milhões de visualizações e cerca de 907 mil curtidas. Fora o próprio perfil de Bolsonaro, o principal canal associado a vídeos do presidente é o do portal Folha Política, que pertence a Ernani Fernandes Barbosa Neto, investigado em inquérito do STF que apura a organização de atos antidemocráticos. Um dos vídeos do canal que é sugerido a quem assiste a conteúdos do presidente tem como título: “Bolsonaro alerta Alexandre de Moraes: ‘Ontem quase tivemos uma crise institucional. Faltou pouco’”. O vídeo mostra parte de um pronunciamento de Bolsonaro em frente ao Palácio do Planalto no qual ele critica duramente decisões do STF, em especial o impedimento da nomeação de Alexandre Ramagem, amigo próximo do presidente, para a direção da Política Federal. Além do Folha Política, outros sete canais investigados pelo STF estão entre as recomendações do YouTube através de vídeos de Bolsonaro. O Foco do Brasil, alvo de inquérito que apura a organização de manifestações contra as instituições democráticas no país, foi recomendado seis vezes em três dos vídeos mais visualizados do presidente. Já o Vista Pátria foi indicado cinco vezes em quatro vídeos do perfil de Bolsonaro. O canal pertence a Allan Frutuoso, denunciado à CPMI das Fake News como parte de um esquema que cria e replica campanhas de ódio. Em um dos vídeos recomendados, publicado em 2019, o youtuber elogia o pronunciamento do dia 24 de março de Jair Bolsonaro em rede nacional, quando o presidente criticou a imprensa profissional, chamou a Covid-19 de “gripezinha” e defendeu a volta à normalidade. O Terça Livre TV, canal de Allan dos Santos, também é recomendado através do YouTube do presidente. “É lógico que governo comprará vachina da China, diz Mourão”, é o título de um dos três vídeos do Terça Livre TV. Allan dos Santos é investigado por participação na organização dos atos antidemocráticos e também no inquérito sobre fake news. Os canais Giro de Notícias, Te Atualizei, Ravox Brasil, Bernardo Küster e Vlog do Lisboa também tiveram conteúdos recomendados nos vídeos do presidente. Todos eles são investigados ou foram denunciados em esquemas de desinformação e linchamentos virtuais. Adilson Nelson – dono do Ravox Brasil –, Alberto Silva – do Giro de Notícias –, e Fernando Lisboa são acusados de participação em atos antidemocráticos. Já Bárbara Zambaldi – do Te Atualizei – e Küster são investigados no inquérito sobre fake news. A youtuber pontuou à reportagem que seu canal não foi citado no inquérito, apenas sua conta de Twitter. Em depoimentos à Polícia Federal, os responsáveis pelos canais investigados por associação a atos antidemocráticos negaram ter compartilhado vídeos com informações falsas ou que incitassem animosidade das Forças Armadas contra as instituições democráticas. À Pública, Alberto Silva disse não ter tido acesso aos autos do inquérito e questionou “do que se trata esse tal antidemocrático?”. O youtuber ainda negou que seu canal tenha algum vínculo com Jair Bolsonaro atribuindo as recomendações ao algoritmo do Youtube, mas reiterou o apoio ao presidente. “Somos de direita e apoiamos a conduta do atual presidente da República.” A lista dos canais mais recomendados pelo YouTube do presidente inclui mais cinco canais bolsonaristas, não investigados: LiloVlog, Daniel Lopez, Valeria Bernardo – Deep State V, Luiz Viajante Bolsonaro 2022 e Conhecendo os 2 Lados da Moeda. Há ainda o canal do youtuber Leudo Costa, o CristalVox. Ele chegou a pedir voto para Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018 e participou da cobertura da posse presidencial, mas hoje tece críticas ao presidente. A reportagem questionou os canais mais recomendados sobre a associação de seus vídeos com os do presidente, mas apenas o responsável pelo canal CristalVox respondeu. O youtuber afirmou que “o CristalVox não tem nenhuma relação pessoal ou profissional com o presidente ou com membros do seu governo” e atribui a associação de seu canal ao do presidente aos algoritmos do YouTube. “Em um determinado momento ‘sonhei’ com a base de inscritos de Bolsonaro. Porém, quando descobri que tudo era movido por empresas especializadas, me recolhi”, conta. Hoje, por ser um “aliado crítico”, como ele mesmo se caracteriza, Costa disse que tem perdido seguidores. Canais da imprensa também foram recomendados pelo YouTube em associação a vídeos do presidente. O da CNN Brasil foi sugerido 19 vezes nos dez vídeos mais vistos de Bolsonaro. Conteúdos da rádio Jovem Pan, da Bandeirantes e da emissora Record também tiveram destaque. Poucos canais com posicionamento contrário ao presidente ficaram entre os mais recomendados. Uma das exceções é a TV 247 – canal do site Brasil 247, que foi o quinto mais recomendado em vídeos do presidente. ![]() Bolsonaro recomenda pessoalmente canais investigados pela JustiçaO endosso de Bolsonaro a canais investigados pelo STF não vem somente do sistema de recomendação da plataforma – que é automático e de responsabilidade do YouTube. Em maio, o presidente recebeu alguns “youtubers de direita” no Alvorada. Entre os convidados, estavam Bárbara Zambaldi, do Te Atualizei, e Allan Frutuoso, do Vista Pátria. ![]() Questionada, Bárbara disse que o presidente nunca “recomendou diretamente” seu canal. À reportagem, ela contou que Bolsonaro republicou um vídeo do Te Atualizei que mostra a carreata Profetiza BH. Ela não aparece no vídeo. Em um segundo momento, “depois de quase ajoelhar no milho”, ela entrevistou o presidente para seu canal e ele compartilhou o link para a entrevista em suas redes sociais. Zambaldi ainda negou ter qualquer contato ou relação com membros do governo. “Essa associação não existe. Mas quem sabe um dia, né? Sonhar é de graça. Seria muito bom ter alguém que pudesse nos atender para tirar dúvidas sobre as coisas que são divulgadas pela grande mídia”, disse. Frutuoso não respondeu à reportagem. Além dos youtubers convidados pelo presidente em maio, Anderson Rossi revelou em depoimento à Polícia Federal que seu canal, Foco do Brasil, recebe vídeos exclusivos do presidente, diretamente do assessor da presidência Tercio Arnaud Tomaz. Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revelou que o canal possui acesso a áreas restritas do Palácio da Alvorada, nas quais a imprensa profissional é barrada. À Pública, porém, afirmou que não possui nenhuma relação com o presidente ou membros do governo. Um dos vídeos do Foco do Brasil recomendados para quem assiste ao canal do presidente é “Presidente Jair Bolsonaro aparece de surpresa e faz convite inesperado aos apoiadores no Alvorada!”. A imprensa não está presente. O canal tem exclusividade das imagens do momento no qual Bolsonaro, sem máscara durante a pandemia de Covid-19, interage com seus apoiadores com abraços e fotos. O Foco do Brasil, que tem mais de 2,3 milhões de inscritos, veiculou anúncios da campanha da reforma da Previdência e de campanha contra a violência doméstica do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, mesmo que em sua descrição afirme não receber dinheiro de “políticos, empresários ou quem quer que seja”. De acordo com o canal, a recomendação a partir dos vídeos de Bolsonaro se dá em função da semelhança temática e eles não possuem “nenhuma ingerência sobre isso”. “O canal Foco do Brasil tem o objetivo principal de publicar notícias sobre o presidente da República e seu governo.” Afirmaram também que sofrem “perseguição e opressão” por publicar “notícias positivas, indo na contramão da mídia tradicional”; e que a associação ao inquérito dos atos antidemocráticos se deu por um “equívoco”. “Nunca financiamos manifestações, atos ou qualquer coisa do tipo. Estamos muito tranquilos quanto à essa investigação”, concluiu em resposta à Pública. Pessoas e parlamentares próximos do presidente também têm seus canais recomendados em vídeos de Bolsonaro no YouTube. Seus filhos Eduardo e Flávio Bolsonaro possuem contas na plataforma e tiveram seus canais recomendados quatro vezes entre os dez vídeos mais populares do pai. A deputada Carla Zambelli e o autoproclamado filósofo conservador Olavo de Carvalho – ambos acusados de espalhar desinformação – também tiveram seus vídeos recomendados através do canal. “Assista a seguir” de Bolsonaro leva a apoiadores e desinformação sobre pandemiaO YouTube sugere vídeos para que seus usuários passem mais tempo na plataforma. Assim, se você busca assistir a um clipe de uma música, o site vai recomendar que você veja outro em seguida – muitas vezes do mesmo artista ou do mesmo gênero musical. “As recomendações do YouTube ajudam o usuário a descobrir assuntos e conteúdos do seu interesse”, explicou a plataforma em nota. Esses vídeos recomendados são exibidos em uma lista na lateral direita da tela e podem ser reproduzidos automaticamente em seguida. Tais recomendações são feitas pelo algoritmo do YouTube com base em uma série de fatores, como histórico de exibição e de pesquisa de cada usuário, além de localização e data. A plataforma afirma oferecer “controles para que cada pessoa defina que tipo de informação podemos usar para calibrar nossas sugestões.” ![]() Bernhard Rieder, pesquisador da Universidade de Amsterdã e criador do YouTube Data Tools, ferramenta utilizada pela reportagem, explica que os vídeos sugeridos pelo YouTube vêm principalmente de três fontes: os vídeos do próprio canal, as recomendações personalizadas – que usam dados individuais de cada pessoa e ficam marcadas como “recomendado para você” – e os vídeos relacionados. Como o algoritmo é baseado na técnica de machine learning, ou seja, uma espécie de aprendizado automatizado, é o sucesso que guia as recomendações: “O que é sucesso? Na definição do YouTube é engagement [engajamento]. Uma recomendação que tem sucesso é uma recomendação que o usuário vai ver”, afirmou o pesquisador. Os canais, então, não podem escolher que vídeos serão relacionados a ele. As sugestões ficam a cargo do algoritmo da plataforma. No entanto, há maneiras de influenciar indiretamente as recomendações. “Um canal tem a opção de utilizar algumas palavras de descrição [nos seus vídeos], pode escolher temáticas e dessa maneira escolher um bocadinho o seu nicho temático, mas não tem a possibilidade de fazer diretamente essas recomendações”, explica Rieder. Um dos vídeos mais vistos nos últimos dois anos no canal do presidente é na verdade do jornalista Alexandre Garcia, no qual ele lê um artigo de opinião favorável a Bolsonaro. Não por acaso, o canal de Garcia é um dos mais recomendados pelo YouTube em vídeos do presidente. O jornalista foi um dos principais articuladores do coletivo de médicos que promoviam tratamento sem respaldo científico para a Covid-19. O contrário também acontece. Muitos dos canais recomendados pelo YouTube em vídeos do presidente fazem acenos para ele, como forma de conseguir visibilidade. “Este canal agora está trabalhando para reeleger Bolsonaro em 2022”, diz a descrição do canal Luiz Viajante Bolsonaro 2022, que foi recomendado oito vezes. Já a youtuber Valéria Bernardo, cujos vídeos também foram sugeridos através do canal do presidente, usa como vídeo de destaque uma declaração exclusiva que Jair Bolsonaro deu a ela em visita a Brasília. No vídeo, Bolsonaro defende, sem apoio em evidências científicas, o uso da hidroxicloroquina no tratamento precoce do coronavírus. O canal, Deep State V, tem apenas 140 mil inscritos – menos de 5% da audiência do canal do chefe do Executivo, que soma 3 milhões de inscrições. “Tem um monte de gente pequenininha tentando competir pela atenção do Bolsonaro, do Trump, de outros líderes que possam fazer com que eles consigam engajamento, atenção, dinheiro. Tudo isso que vem com essa exposição”, constata a pesquisadora Dayane Machado, do Departamento de Ciência e Tecnologia da Unicamp e autora de estudo sobre o conteúdo antivacina no YouTube. Bolsonaro, presidente youtuberO canal de Jair Bolsonaro no YouTube foi criado há mais de dez anos, em 30 de junho de 2009, quando ele ainda era deputado federal. Atualmente, ele publica a íntegra de coberturas de eventos dos quais o chefe do Executivo participa, usando imagens de emissoras públicas como a TV Brasil, além de notícias sob a ótica bolsonarista. Em 3 de dezembro de 2020, o canal somava mais de 202 milhões de views, 3 milhões de inscritos e mais de 2,4 mil vídeos. Rieder compara a audiência do presidente na plataforma à de uma emissora de televisão. “Hoje um político é sempre ligado com uma audiência, muito mais direto do que antes. Isso é uma coisa que favorece as políticas populistas, que usam a desinformação.” Os vídeos mais populares do canal de Bolsonaro foram publicados antes de ele se tornar presidente. O mais visto mostra uma coletiva de imprensa da qual o então deputado participou em 2014. Nele, Bolsonaro fala em kit gay, acusa o MST de terrorismo e diz que os presídios no Brasil “estão uma maravilha”, entre outras afirmações falsas, tendenciosas e ofensivas. ![]() “O Brasil precisa que a verdade seja dita”, promete o título do vídeo de destaque no canal do presidente, publicado em abril de 2016 – logo após a votação pelo impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. No vídeo, Bolsonaro levanta suspeitas sobre a OAB, relacionando a instituição com “militâncias de esquerda” da época da ditadura militar e ainda defende o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, acusado de torturar presos políticos. “Não existe nenhuma prova de que ele seria torturador”, diz. Em 2012, quatro anos antes da publicação do vídeo, decisões já consideravam que Ustra havia torturado presos políticos durante a ditadura. Ainda que disseminasse informações falsas, o canal cresceu em popularidade e foi um dos principais veículos de campanha do político para a Presidência – que contava com pouco tempo de televisão. O YouTube de Jair Bolsonaro chegou a ter um projeto de monetização a partir da empresa “Bolsonaro Digital”, fundada pelos filhos do presidente, mas que nunca chegou a sair do papel. Recentemente, Renan Bolsonaro, filho mais novo do presidente, fundou uma empresa dedicada à produção de conteúdos publicitários. A cobertura da festa de inauguração foi realizada gratuitamente por produtora contratada pelo governo federal. Questionada, a Secretaria de Comunicação do Governo Federal não respondeu sobre a administração dos conteúdos postados pelo YouTube do presidente. O canal está registrado pelo e-mail dep.jairbolsonaro@camara.leg.br, endereço que ele tinha como deputado federal. Já a descrição do canal está atualizada: “Canal Oficial de Jair Bolsonaro, Presidente da República Federativa do Brasil”. “Rede Record desmascara mais uma canalhice da Rede Globo” é o título do vídeo mais visto do canal desde que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência. Trata-se de uma reportagem do Jornal da Record que mostra a agenda de Bolsonaro no dia da morte de Marielle, contrariando depoimento de porteiro do condomínio do presidente veiculado pelo Jornal Nacional, também questionado pelo MP do Rio. Na reportagem, Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, diz que o pai sofre perseguição política. ![]() Algoritmo do YouTube favorece “conteúdos extremistas”Para quem compartilha desinformação, o YouTube é “a maneira mais importante de encontrar uma audiência”, defende o pesquisador Bernhard Rieder. “São indicados os canais sempre mais radicais, sempre menos consensuais, menos ligados ao centro da conversação política”, afirma. Mas não é apenas a recomendação de vídeos que preocupa. Para Dayane Machado, o YouTube funciona como “acervo para este tipo de conteúdo [extremista]”, que pode ser divulgado também em outras redes. Em uma publicação institucional intitulada, “Mitos e Fatos sobre desinformação e conteúdos impróprios no YouTube”, a plataforma nega que as recomendações de vídeos do YouTube levem o usuário a conteúdos desinformativos. “Somente em 2019, fizemos mais de 30 melhorias com o objetivo de reduzir a recomendação de conteúdo considerado duvidoso”, informou porta-voz da empresa à reportagem. À Pública, o YouTube disse que se compromete em recomendar conteúdos de fontes confiáveis, como veículos de imprensa e órgãos oficiais, através de destaques na página inicial, nas buscas e com painéis informativos. “O YouTube diz o tempo todo que está tomando providências, e isso já tem anos, mas quando a gente vai fazer, colocar o termômetro, pegar amostras do que está acontecendo, a gente vê que os problemas continuam acontecendo”, retruca Dayane. Para os dois pesquisadores, uma das formas de combater o fluxo de desinformação na plataforma é estabelecer parcerias com a sociedade civil, universidades e jornalistas, que já possuem familiaridade com o tema e poderiam atuar em conjunto. “A gente sugere transparência. Seria muito simples se eles estivessem de fato interessados em combater o problema e colaborar com os pesquisadores”, afirmou Dayane. Além disso, Rieder vê como opção mudar a lógica de recomendação e incentivar o usuário a utilizar a plataforma “de uma maneira mais informada e mais consciente”.
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04/01/2021 03:03 |
Regulamento – Microbolsas Acesso à Internet
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![]() ![]() ![]() Regulamento para seleção de candidatos a microbolsas para a produção de reportagens investigativas sobre o tema acesso à internet. O Concurso de Microbolsas é um projeto da Agência Pública que, em sua décima terceira edição é feito em parceria com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – Idec. ObjetivosA Agência Pública, primeira agência de jornalismo investigativo sem fins lucrativos do Brasil, tem como missão incentivar, produzir e difundir conteúdo jornalístico de qualidade pautado pelo interesse público, resgatando o papel do jornalismo como ferramenta da sociedade. Buscando qualificar o debate democrático sobre temas importantes para o país, a Agência Pública trabalha para estimular a produção e a cobertura de pautas que contribuam para a transparência pública, a justiça social e a defesa intransigente dos direitos humanos. O projeto das microbolsas de reportagem faz parte dos esforços para alcançar esses objetivos gerais, com o foco específico nos repórteres que pretendem produzir jornalismo investigativo independente, inovador e em sintonia com as discussões mais relevantes para a população. Nesta edição, a Agência Pública se junta ao Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – Idec – organização sem fins lucrativos dedicada a defender a ética nas relações de consumo e direito dos consumidores – para promover as Microbolsas Acesso à Internet. O concurso é destinado a repórteres interessados em trabalhar com temas de interesse público de maneira independente. Pretendemos explorar pautas que abordem os diferentes aspectos do acesso à internet no Brasil, como falta de acesso a dispositivos, falta de infraestrutura, políticas públicas de acesso à internet, práticas abusivas e pouco transparentes de empresas de telecomunicação, desinformação, entre outras . O concurso Microbolsas Acesso à Internet busca pautas do país todo sobre o tema. InscriçõesOs projetos apresentados por jornalistas profissionais, diplomados ou não, com comprovada experiência em realização de pautas de maneira independente, são elegíveis a 4 (quatro) microbolsas no valor de R$ 7.000,00 (sete mil reais) para produção de reportagem investigativa. As inscrições devem ser feitas até 23h59 do dia 05 de fevereiro de 2020, através do formulário de inscrições. Os responsáveis pela proposta receberão a confirmação das suas inscrições por e-mail. As propostas de reportagem inscritas podem ter um ou mais autores, devidamente identificados. A Agência Pública se compromete a não divulgar os projetos de reportagem. Como se inscreverOs projetos inscritos devem, de acordo com os requisitos do formulário, conter todas as seguintes informações: a) informações de contato b) pequena biografia do jornalista proponente focada na experiência profissional, com link de reportagens investigativas realizadas; c) uma referência profissional com telefone de contato d) informações de contato e pequena biografia dos demais participantes da equipe, se houver e) proposta de pauta inédita detalhada: 1. Pesquisa inicial; 2. Contexto, 3: Possíveis fontes. f) plano de trabalho, incluindo tempo de pesquisa, métodos jornalísticos a serem empregados e produtos a serem entregues (texto, fotos, vídeo, infográficos); g) plano de orçamento, incluindo todos os custos (passagens, transportes, diárias) e o pagamento do repórter, na proporção que ele escolher; Do julgamentoA Comissão Julgadora levará em conta os seguintes critérios: – consistência na pré-apuração; – originalidade e relevância da pauta; – experiência do repórter e capacidade de realizar reportagens de forma independente; – segurança e viabilidade da investigação; – recursos e métodos jornalísticos a serem utilizados. A direção da Agência Pública e do Idec vão selecionar as melhores pautas. Da premiaçãoOs vencedores serão anunciados no dia 18/02 no site da Agência Pública. Os selecionados receberão também uma comunicação por e-mail acompanhada de um termo de compromisso que deve ser assinado em duas vias e devolvido à Agência Pública. O termo de compromisso não constitui vínculo empregatício. A Agência Pública não se responsabiliza por quaisquer questões de saúde, previdência ou impostos por parte dos vencedores durante a produção do trabalho. Os vencedores receberão metade da verba total (R$ 3.500) a título de adiantamento e a segunda metade depois da realização da reportagem. O pagamento do repórter fica a seu critério, de acordo com o plano de orçamento apresentado no ato da inscrição. Os recursos das Microbolsas podem ser utilizados para gastos com viagens e pesquisas, por exemplo, da maneira que os propositores decidirem. O prazo de realização da reportagem não deve exceder três meses. No caso de o projeto não ser concluído no prazo, o vencedor deverá devolver integralmente o valor recebido. Os premiados farão reuniões de planejamento e acompanhamento das reportagens com os editores da Agência Pública regularmente, em datas a serem combinadas. As reuniões podem ser realizadas remotamente. Na impossibilidade desse contato serão fixadas novas datas, sem exceder o prazo máximo de 10 dias. Caso a pauta apresente risco à segurança do repórter/equipe, serão discutidas soluções em conjunto com a direção da Agência Pública, podendo, inclusive, levar à suspensão da reportagem. A Agência Pública desencoraja os repórteres a cometer quaisquer infrações à lei. A Agência Pública se reserva o direito de editar o conteúdo final das reportagens em contato com o repórter, dentro do espírito colaborativo que vigora na organização. Todas as reportagens serão revisadas pelo departamento jurídico da Agência Pública. Respeitadas todas as etapas previstas neste regulamento e no projeto de investigação jornalística, depois da publicação da reportagem, os selecionados receberão um certificado de participação no projeto Microbolsas da Agência Pública. As reportagens geradas pelas propostas vencedoras serão publicadas no site da Agência Pública e seus republicadores. Os autores cederão à Agência Pública o direito sobre o conteúdo publicado, que pode ser reproduzido em outros produtos (livro, web, cd etc.). As reportagens serão registradas com licença Creative Commons e, portanto, todas as reportagens poderão ser republicadas livremente por outros veículos sem ferir direitos autorais. A divulgação será planejada em parceria com os autores. Para dúvidas ou mais informações: contato@apublica.org. |
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04/01/2021 03:03 |
Agência Pública e Idec distribuem bolsas para reportagens sobre acesso à internet
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![]() ![]() ![]() A internet está presente em 70% dos domicílios brasileiros, segundo a pesquisa TIC Domicílios 2019. Quando olhamos para os 30% sem acesso, percebemos uma profunda desigualdade: de 20 milhões de domicílios sem acesso à internet, 13 milhões estão na classe DE. A pesquisa aponta ainda que 59% dos domicílios sem acesso não estão conectados por conta do valor do serviço, considerado alto. Com a pandemia de Covid-19, passamos a utilizar ainda mais a internet para trabalhar, estudar, nos informar e nos comunicar, tornando ainda mais evidente a desigualdade no acesso. É neste contexto que lançamos as Microbolsas Acesso à Internet, uma parceria da Agência Pública com o Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – organização sem fins lucrativos dedicada a defender a ética nas relações de consumo e direitos dos consumidores. Nesta 13ª edição das Microbolsas convocamos repórteres de todo o país a propor pautas investigativas sobre acesso à internet no Brasil e as diversas questões relacionadas ao tema, como falta de acesso a dispositivos, franquias de dados limitadas e bloqueio do acesso móvel, falta de infraestrutura e de políticas públicas de acesso à internet, práticas abusivas e pouco transparentes de empresas de telecomunicação, aumento da desinformação, entre outras. Serão distribuídas quatro bolsas no valor de R$ 7 mil para os repórteres selecionados pela Agência Pública e pelo Idec. As inscrições vão até o dia 5 de fevereiro e devem ser feitas pelo formulário que pode ser encontrado neste link. Além da bolsa, os repórteres selecionados contarão com a mentoria da Agência Pública para produzir a reportagem proposta, que será publicada no site da agência e parceiros republicadores. “Com a pandemia, a essencialidade do acesso à internet mostrou toda a sua força, mas o cenário de conectividade no Brasil ainda é marcado por profundas desigualdades, que vão muito além do mundo digital. Com a iniciativa de bolsas de reportagens, buscamos compreender de forma mais profunda os impactos da desigualdade e, especialmente, como o modelo de mercado que temos atualmente favorece e até aprofunda esse problema”, explica Diogo Moyses, coordenador da área de telecomunicações e direitos digitais do Idec. Para se inscrever, é necessário enviar uma breve apresentação do repórter, referência profissional, resumo e descrição da pauta, plano de trabalho e plano de orçamento para a produção da reportagem. As propostas serão selecionadas pela direção da Agência Pública em parceria com o Idec, considerando a originalidade e relevância da pauta, consistência na pré-apuração, segurança e viabilidade da investigação e os recursos e métodos jornalísticos que serão utilizados. Os vencedores serão anunciados a partir do dia 18 de fevereiro no site da Agência Pública. |
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21/12/2020 03:00 |
2020, um ano que não vai deixar saudade
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![]() ![]() ![]() Que ano. 2020 ficará marcado na vida de todos que o viveram como o ano em que o imponderável tomou as rédeas de todos os acontecimentos, o ano em que acostumamo-nos a conviver com a incerteza, a imprevisibilidade. Parece também ter sido o ano em que nos acostumamos ao horror, à inominável morte de mais de 185 mil brasileiros e 1,67 milhão de pessoas pelo mundo afora, como se fosse um fato corriqueiro da vida. O ano em que chefes de Estado atuaram contra as suas populações, piorando os efeitos da pandemia em diversos países – seja por incompetência, corrupção, omissão ou, como aqui, por puro desprezo à vida das pessoas, irrelevante no cálculo político. Na Agência Pública, como em todos os veículos de imprensa do mundo, passamos a trabalhar com a imprevisibilidade como fator onipresente no nosso dia-a-dia; foi uma tarefa extremamente árdua entender os meandros de uma doença da qual ainda hoje se sabe pouco, para trazer informações confiáveis aos nossos leitores. Imprevisibilidade, ainda, de condições de trabalho: em março, estávamos nos preparando para voltar à redação depois de uma longa reforma, quando tivemos que retornar todos para casa e fazer o que sempre evitamos, jornalismo pelo telefone. Mesmo em meio a tantas incertezas, não tivemos dúvida sobre onde deveríamos colocar nossa atenção: nas desigualdades e injustiças que a pandemia de COVID-19 desnudaria, atingindo de maneira diferente os pobres e os ricos. De fato, o que ocorreu, conforme nos explicou a pneumologista Margareth Dalcolmo, foi que a epidemia chegou ao Brasil através da classe média e rapidamente se espalhou para a classe trabalhadora, que não tinha como ficar parada em casa – em especial os trabalhadores informais – e cujas famílias vivem em casas sobreocupadas, sendo impossível o distanciamento social que tornou-se a única medida eficaz para conter o vírus. Apostando no jornalismo de dados, conseguimos chegar a revelações de impacto. Bem no comecinho do isolamento social, mostramos como o Brasil tem vários desertos de unidades de tratamento intensivo – informação de extrema relevância para um país que começava a ser afetado pelo coronavírus. Apuramos que antes da pandemia os presídios do país já enfrentavam uma epidemia de tuberculose. Em maio, revelamos que em duas semanas, o número de mortes de negros por Covid-19 foi cinco vezes maior do que de brancos no Brasil. Mesmo assim, tivemos que enfrentar, como todos os demais jornalistas, um apagão de dados do governo federal – as inconsistências nos dados e os erros repetidos geraram uma verdadeira “caixa preta” no início da pandemia. Em certos casos, nossos repórteres não deixaram, de sair às ruas para acompanhar a situação da população. Nos primeiros dias da pandemia, uma repórter conseguiu viajar para uma pequena cidade fluminense onde conseguiu conversar (de longe) com a família de uma doméstica de 63 anos que morreram de coronavírus. Voltavam do enterro. Sua patroa, ao retornar de uma viagem à Itália, não a informou sobre os riscos de contaminação nem isolou-se. Sua morte foi a primeira no estado do Rio de Janeiro e a quinta no país. “Se a informação tivesse chegado antes, talvez pudéssemos mudar a história clínica”, disse o diretor do hospital à Agência Pública. Poucos dias depois, as estradas do Rio de Janeiro foram fechadas. Investigamos também a situação dos indígenas frente ao coronavírus, sob ataque do governo, que de propósito enfraquece as instituições que deveriam zelar por eles, abrindo seus territórios à ação de invasores e ladrões de recursos naturais. Os indígenas urbanos não ficaram mais a salvo: em Dourados, no Mato Grosso, eles foram contaminados a partir de um frigorífico da JBS. Os frigoríficos, aliás, tiveram um papel crucial em espalhar a COVID nas pequenas cidades, conforme registramos. Retratamos também o drama dos moradores de rua em São Paulo, absolutamente abandonados em meio à pandemia, e cobrimos a crise que se desenrolava no sistema carcerário, isolado do resto do mundo com a suspensão das visitas. Desde a precária situação dos presos no Amazonas, onde 300 foram isolados sem testes, e a situação de gestantes e mães com bebês que foram mantidas presas, até diversos relatos de tortura em um presídio em Urberlândia – um cenário que só se confirmou com a morte do jovem Lucas Trindade em presídio superlotado de outro município mineurio, Manhumirim. Uma morte que, constatamos, poderia ter sido evitada. Nossa repórter conseguiu entrevistar ainda um preso recém saído da pior prisão do Rio de Janeiro, unidade prisional Ary Franco, que fica debaixo da terra, sem janelas nem circulação de ar. “Tudo lá é subterrâneo. Você desce assim e vai ficando tudo abafado. Aí você começa a respirar diferente. É como respirar em um lugar úmido, fechado. É muito desumano”, ele contou. Mostramos como aqueles que adoecem e se curam de COVID enfrentam ainda hoje sequelas que incluem um eterno sentir de um cheiro podre, fadiga intransponível e danos neurológicos – eles relataram que não têm recebido atendimento no SUS para esses males. Na linha de frente disso tudo, os médicos e enfermeiros enfrentavam riscos pessoais, jornadas extenuantes, falta de equipamentos de proteção e testes – e em meio à falta de liderança do Ministério da Saúde, que deixou de ser protagonista em informar adequadamente a população. Isso tudo quando ainda não tínhamos chegado ao ponto que fez a pandemia ser ainda pior no Brasil do que em todos os demais países: a atuação do bolsonarismo. O presidente que propaga a mortePara muitos, a postura negacionista do presidente e de seu entourage foi uma surpresa, vinda de um homem explosivo e desinformado, porém autêntico. Nossos repórteres investigaram a fundo como as mentiras propaladas pelo presidente, seus filhos e aliados mais próximos a respeito da COVID-19 se espalharam pela esfera da opinião pública – e comprovaram que não há nada de “orgânico” nelas. Foi tudo um cálculo político. Com ajuda de uma ferramenta de análise de Twitter, conseguimos comprovar que as primeiras ondas de Fake News que relacionavam a pandemia ao “vírus chinês” foram impulsionadas por robôs e por influenciadores bolsonaristas. Ao mesmo tempo, começava-se a armar um dos ciclos mais vergonhosos da pandemia, os protestos contra o isolamento que melaram a única medida protetiva eficaz segundo todos os órgãos sérios do mundo. Nossa equipe investigou quem estava por trás desses protestos, que tomaram avenidas como a Paulista, em carrões 4×4 e megafones. Detectamos que muitos deles foram articulados por políticos que tentaram sem sucesso fundar o Partido Aliança Pelo Brasil, o natimorto partido de Bolsonaro. A atuação do chamado “gabinete do ódio” foi crucial para Bolsonaro conseguir derrubar aquele que via como seu principal competidor político – o Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que, embora com problemas, estava tentando lidar de maneira sensata com a emergência sanitária. Mandetta foi demitido em 16 de abril. Outros políticos que amedrontavam o presidente seguiriam como alvo preferencial dos ataques dele e das suas milícias virtuais. Assim, politizou-se a maior pandemia em um século. No centro da empreitada desinformativa estava a decisão indefensável do governo de abraçar remédios falsos para COVID, como a Cloroquina, que foi liberada para prescrição pelo Ministério da Saúde assim que o general Pazuello assumiu. O Exército passou a fabricar a droga – que não tem eficácia comprovada – e, ato contínuo, prefeituras de todo o Brasil passaram a distribuir o “kit covid” aos cidadãos. Prefeitos que buscavam a reeleição passaram a propagandear a “falsa cura” como meio de ganhar votos – e muitos acabaram sendo mesmo reeleitos, como o de Porto Feliz (SP), que recebeu 92% dos votos. Outros foram pressionados pelos próprios cidadãos, que queriam o remédio propalado pelo presidente de qualquer jeito, como o de Joinville (SC). Nós só descobrimos isso graças a um novo método de reportagem, a Investigação Participativa, na qual convidamos leitores a enviarem denúncias que depois são investigadas pelos nossos jornalistas. Recebemos ao longo do ano centenas de respostas, que trouxeram realidades de diversos locais do Brasil e às quais dificilmente teríamos acesso sem a participação ativa de cidadãos indignados. É o caso, por exemplo da situação chocante dos funcionários da Petrobras na refinaria de Cubatão (SP), que estavam sendo obrigados a trabalhar mesmo depois de terem testado positivo para COVID-19. Pelo menos três funcionários haviam morrido até agosto, segundo o sindicato. Nossas repórteres que se especializaram em investigar as redes de desinformação revelaram que, enquanto os mortos se avolumavam, o governo gastou R$ 10 milhões para divulgar uma “imagem positiva” do Brasil no exterior e que grande parte da verba da Secom era dirigida a sites e canais que ajudaram a espalhar desinformação sobre a pandemia. Outros R$ 30 milhões foram gastos em rádios e TVs de pastores que fizeram uma “oração” por Bolsonaro em Brasilia. Também investigamos a aliança estável com grupos que tem crescido na onda bolsonarista, como o grupo evangélico MK, cujo site Pleno.News traz manchetes como essa: “Sol forte pode matar coronavírus em 34 minutos.” O grupo que espalhou ativamente Fake News pertencia à família do senador Arolde de Oliveira, presidente do PSD no Rio de Janeiro. Sua esposa, Yvelise de Oliveira, é ainda a CEO da empresa, que também administra a página de Youtube de Flávio Bolsonaro, filho do presidente. Arolde morreu em agosto de COVID-19, a doença inclemente. Impeachment, Militares e EvangélicosA atitude de Bolsonaro – que por diversas vezes negou e colocou em dúvida medidas sanitárias que deveriam ser acatadas o mais rápido possível – manteve o governo e o país em seguidas crises que tiveram um resultado claro: mais de 1500 brasileiros acorreram ao Congresso para protocolar 55 pedidos de impeachment do presidente. Reunindo todos eles nessa ferramenta, onde podem ser avaliadas por todos os cidadãos. Vêm de todos os matizes políticos – de indígenas a ex-bolsonaristas – e muitos têm argumentos claros ao descrever crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente durante a crise. Nenhum deles foi a votação por falta de iniciativa do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia; mas o presidente da casa recebeu, graças à nossa ferramenta, mais de 5.300 e-mails de brasileiros cobrando que ele se mexa. O negacionismo levou também a algumas perdas importantes para o governo. Em 24 de abril o ministro Sergio Moro desembarcou da aventura bolsonarista, minando o apoio dos lavajatistas ao governo e abrindo incerteza sobre seu próprio futuro político. Foi um fim melancólico para um juiz que sonhou muito para si mesmo e para uma Força-Tarefa que conquistou aliados influentes. Durante o ano, nós publicamos uma série de reportagens sobre a questionável aliança – por vezes, com ações ilegais – entre a Lava Jato e o governo americano, representado ora pelos procuradores do Departamento de Justiça, que vieram ao Brasil entrevistar delatores a convite de Deltan Dallagnol e sua turma e sem a autorização do governo federal; ora pelos agentes do FBI, que retomaram a influência sobre agentes brasileiros da PF e sobre procuradores com o canto da sereia do combate à corrupção. Detalhamos quem foram os agentes que atuaram nos casos da Lava-Jato, investigando Petrobras e Odebrecht em nome do governo americano, entre eles uma super-agente que atuou muito no Brasil e se tornou chefe da Unidade de Investigação transnacional do FBI e um agente que trabalhou com inteligência durante a Guerra do Golfo e virou adido policial em Brasília. Tudo isso enquanto os procuradores discutiam com os americanos como repartir a verba da multa da Petrobras – que sempre souberam que seria bilionária e recebiam ajuda da ONG Transparência Internacional para formatar a fundação que administraria a verba e ampliaria as receitas para o mercado de combate à corrupção, beneficiando seus próprios colegas. Revelamos ainda que Sérgio Moro, durante os 18 meses que esteve à frente do Ministério da Justiça, abriu as portas do país ao FBI, que manteve dezenas de reuniões com membros do MJ e apoiou a construção de um centro de espionagem na tríplice fronteira, onde também tem acento. Todas as reportagens foram feitas graças ao arquivo da Lava-Jato, diálogos vazados ao site Intercept Brasil, com o qual fizemos essa prolífica parceria. O desembarque de Moro do governo significou o fortalecimento dos dois últimos grupos leais a Bolsonaro (fora o hesitante centrão): os evangélicos e os militares. A esses seguimos investigando sua atuação nas GLOs, nas quais mataram 25 civis na última década. Este ano, provamos que a operação que levou à morte do músico Evado Rosa no Rio de Janeiro foi no mínimo irregular e, provavelmente, ilegal. Ouvimos militares influentes para entender o termômetro político de um governo cujo presidente chegou a propor uma intervenção militar no STF, segundo reportagem da Revista Piauí. E mapeamos como o GSI comandado pelo general Augusto Heleno está implantando agentes da Abin em diferentes ministérios na sua sanha de espionar diferentes temas e camadas da sociedade. Já os evangélicos nós temos investigado desde 2015. Este ano, nossa cobertura foi reforçada e passou a ser uma espécie de “editoria” com jornalistas especializadas em mapear o lobby, o abuso de poder religioso e o fluxo de dinheiro público que irriga as diferentes igrejas e empresas evangélicas. Investigamos o lobby das igrejas que exigiam que os templos ficassem abertos durante a pandemia, como forma de combater a redução do dízimo mesmo às custas da saúde dos fiéis; mostramos como grupos evangélicos e olavistas se engajam ativamente nas campanhas de desinformação contra inimigos políticos do governo, como no triste caso da tentativa de ligar pedofilia à esquerda, investigamos com atenção as comunidades terapêuticas administradas por organizações evangélicas, que mantiveram as internações durante a pandemia e foram alvo de denúncia de abusos e até tortura contra adolescentes internados. Com a aproximação das eleições, apuramos como os evangélicos fizeram propagandas em templos e criaram novas lideranças para ganhar ainda mais espaço da política – um bom exemplo são as “novas Damares” que abraçam o cor-de-rosa e a orgulhosa defesa que Silas Malafaia fez dos seus candidatos, enviando santinhos para moradores do Rio de Janeiro e assumindo em entrevista à nossa repórter: “É uma guerra ideológica. Então, você pensa que vou dar mole para eles [a esquerda]? Não tem moleza, é pau, é ideológico.” Puxados pela Igreja Universal, as candidaturas de sacerdotes bateu recorde esse ano. Nesse clima, as eleições foram marcadas como as mais violentas desde a redemocratização, com cinco ataques políticos a cada dia em novembro, conforme comprovamos em um levantamento inédito que aliou Investigação Participativa e uma apuração feita com oito organizações jornalísticas, unindo nesse esforço sem precedentes 35 profissionais, entre repórteres e editores. Os leitores foram nossos maiores aliadosEm todo esse ano conturbado, os leitores foram nossos melhores guias. Foram os Aliados, aqueles que contribuem com doações mensais para que a Pública exista, que indicaram algumas das vozes mais lúcidas para entrevistarmos, aquelas que nos ajudaram a refletir sobre as incessantes crises que abalaram cada um de nós. Nomes como Miguel Nicolelis, Lilia Schwarcz e Laura Carvalho figuraram no nosso site por terem sido eleitos pelos nossos aliados. Diante de tudo o que aconteceu em 2020, o próximo ano trará pelo menos um motivo para que a equipe da Pública olhe para trás com orgulho. Em março de 2021, a agência, a primeira a se dedicar totalmente ao jornalismo investigativo no país, completa 10 anos de existência. Para marcar a data, vamos publicar um livro sobre aspectos cruciais sobre nossas coberturas, estratégia e modelo de negócios. E teremos um memorável evento online em parceria com o Instituto Tomie Ohtake para refletir sobre a próxima década. Comecei esse texto dizendo que, ao que parece, nós brasileiros nos acostumamos ao horror das mortes. No dia em que o Brasil volta a ter 1000 mortes por dia, tenho a certeza de que, aqui na Pública, não nos acostumamos e nem vamos nos acostumar. A certeza vem desses 10 anos de jornalismo que guarda, ainda hoje, a marca da indignação contra injustiças, abuso de poder e a desigualdade, sempre aliada ao mais rigoroso processo de investigação e checagem. E que, ao final, ajuda a mudar, pouco a pouco, a realidade. Que venham mais dez! Reportagens mais lidas“Se tivessem me falado dos perigos, eu não teria autorizado”, diz irmã de paciente medicada com cloroquina sem consentimento20 de julho de 2020 | por João de Mari Zemilda, 54 anos, que tinha pressão alta e sofria de obesidade mórbida e faleceu em maio, foi tratada com a droga sem que a família fosse informada da falta de eficácia e segurança do medicamento O FBI e a Lava Jato1 de julho de 2020 | por Natalia Viana, Rafael Neves, Agência Pública/The Intercept Brasil, Natalia Viana, Rafael Neves, Agência Pública/The Intercept Brasil e Natalia Viana, Rafael Neves, Agência Pública/The Intercept Brasil Diálogos vazados mostram proximidade entre PF, procuradores e o FBI no caso da Lava Jato, incluindo “total conhecimento” das investigações sobre a Odebrecht “Não tem mais mundo pra todo mundo”, diz Deborah Danowski5 de junho de 2020 | por Marina Amaral A filósofa, que pesquisa há anos “a quebra da relação do homem com o mundo”, diz que a pandemia foi “uma pancada”, mas a sociedade ainda não percebeu a extensão e a urgência do colapso ecológico, em parte pela ação dos negacionistas financiados pela elite “Quanto maior o colapso do governo, maior a virulência da guerra cultural”, diz pesquisador da Uerj28 de maio de 2020 | por Ciro Barros Para o professor João Cezar de Castro Rocha, uma visão revanchista e revisionista da história brasileira moldou Bolsonaro e os bolsonaristas; é essa narrativa que justifica a criação e eliminação de inimigos em série enquanto, ao mesmo tempo, torna impossível governar Após uso de robôs, Laureate agora demite professores de EAD13 de maio de 2020 | por Thiago Domenici Mais de 90 profissionais da educação à distância foram demitidos hoje da rede que é dona da FMU e Anhembi Morumbi; há quinze dias nossa reportagem denunciou uso de robôs no lugar dos docentes Laureate usa robôs no lugar de professores sem que alunos saibam30 de abril de 2020 | por Thiago Domenici Docentes da rede educacional que controla universidades como FMU e Anhembi Morumbi denunciam uso de inteligência artificial para correção de textos; documento obtido pela Pública confirma situação Primeira morte do Rio por coronavírus, doméstica não foi informada de risco de contágio pela “patroa”19 de março de 2020 | por Mariana Simões “Se as informações tivessem chegado mais cedo talvez a gente tivesse como mudar a história clínica”, diz diretor do hospital Trabalho informal sem direito à quarentena: “Se eu ficar em casa como vou sobreviver?”18 de março de 2020 | por Julia Dolce, Rute Pina e Julia Dolce, Rute Pina Diaristas, motoristas, entregadores e ambulantes contam à Agência Pública como têm passado os primeiros dias de recomendação de isolamento em São Paulo Como a Lava Jato escondeu do governo federal visita do FBI e procuradores americanos12 de março de 2020 | por Natalia Viana, Andrew Fishman, Maryam Saleh, Agência Pública/The Intercept Brasil, Natalia Viana, Andrew Fishman, Maryam Saleh, Agência Pública/The Intercept Brasil, Natalia Viana, Andrew Fishman, Maryam Saleh, Agência Pública/The Intercept Brasil e Natalia Viana, Andrew Fishman, Maryam Saleh, Agência Pública/The Intercept Brasil Deltan Dallagnol e Vladimir Aras não entregaram nomes de pelo menos 17 americanos que estiveram em Curitiba em 2015 sem conhecimento do Ministério da Justiça Marcos Nobre: “Se não houver acordo entre as forças do campo democrático, Bolsonaro está reeleito”4 de março de 2020 | por Texto: Anna Beatriz Anjos | Fotos: José Cícero da Silva Para presidente do Cebrap, a eleição de Bolsonaro não é uma simples alternância de poder: "Trata-se de um presidente que quer, de fato, destruir as instituições democráticas" Cinco vezes em que nossas reportagens provocaram mudanças1) O FBI e a Lava jato: As informações reveladas sobre a colaboração entre o FBI e a Lava Jato levaram a diversos impactos. Após as revelações, pela primeira vez um processo foi aberto pelo Conselho Nacional Ministério Público contra o chefe da Força-Tarefa, Deltan Dallagnol. As informações deram força ao pedido da defesa do ex-presidente Lula para acessar correspondências trocadas entre membros da força-tarefa e autoridades estrangeiras no STF. Além disso, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) determinou ao Ministério da Justiça que informasse à defesa de Lula sobre a existência de registros de pedidos de cooperação internacional entre os procuradores e autoridades americanas no âmbito da Operação Lava Jato. O ministério disse não ter encontrado nenhum pedido de cooperação internacional. Sob pressão, Deltan Dallagnol deixou pouco depois a liderança da Força-Tarefa. 2) Investigação de fraudes no ensino superior: Durante um ano, investigamos o grupo educacional Laureate, até então dono de universidades privadas como a Anhembi Morumbi e Uniritter. Revelamos a existência de fraudes para aprovar cursos no MEC, uso de robôs para corrigir atividades sem que os alunos soubessem e demissões de professores por pop-up. As denúncias da Pública motivaram uma ação civil pública do Ministério Público Federal, que qualifica de “absolutamente injustificável” a omissão do Ministério da Educação diante dos indícios de irregularidades, que podem afetar o aprendizado e a vida de mais de 300 mil alunos. 3) Paraquate banido: Este ano, o projeto Por trás do Alimento, parceria da Pública com a Repórter Brasil para investigar o uso de agrotóxicos, cobriu os trâmites finais da proibição do paraquate, um pesticida letal que estava, desde 2017, com data marcada para ser banido pela Anvisa. Investigamos o lobby das fabricantes e a pressão para que a Anvisa voltasse atrás na proibição. Nossa cobertura fez com que a Unicamp suspendesse uma pesquisa financiada por fabricantes de soja que visavam manter o paraquate em circulação e foi fundamental para que a Anvisa decidisse banir definitivamente o agrotóxico do país. Na última década, o paraquate intoxicou 530 pessoas no Brasil – das quais 138 morreram. 4) Acesso à informação: Após revelarmos que o governo não divulga dados de 72% dos agrotóxicos autorizados no país, protegendo multinacionais, o Ibama anunciou mudanças na forma de divulgar as informações sobre a produção e comercialização desses produtos. A reportagem também foi feita em parceria com a Repórter Brasil. 5) Acesso ao aborto legal: Em 2020, o caso da menina de 10 anos grávida após ter sido estuprada pelo tio e impedida de fazer o aborto legal em sua cidade chocou o país. A Pública revelou que a cidade de São Mateus, no Espírito Santo, onde ocorreu o caso, registra em média um parto de menina menor de 14 anos por mês – e que, apenas este ano, seis meninas da mesma faixa etária não conseguiram interromper a gravidez no município. Com base nos dados da reportagem, o Ministério Público do Espírito Santo pediu esclarecimentos a diversos órgãos públicos de São Mateus, como a Superintendência Regional de Saúde, a Secretaria Municipal de Saúde, o Conselho Tutelar e as Delegacias de Polícia. Mais republicadasNossas reportagens são distribuídas gratuitamente para veículos do Brasil todo e também de outros países. Neste ano, mais de 1000 republicadores espalharam nossas histórias por aí, no Brasil e em 19 países diferentes. Arte: Bruno Fonseca/Agência Pública
![]() Republicada por UOL, El Diário (Espanha) e Poder 360. Arte: Bruno Fonseca/Agência Pública
![]() Republicada por Carta Capital, Opera Mundi, UOL, Sul 21. Bruno Fonseca e Larissa Fernandes/Agência Pública
![]() Republicada por Yahoo!, Catraca Livre, MSN. EspeciaisEntre março e julho deste ano, toda a nossa equipe esteve integralmente dedicada a investigar os impactos da Covid-19 na vida dos brasileiros mais vulneráveis. Nossa cobertura ganhou uma menção honrosa especial para trabalhos sobre a pandemia do Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde. Trabalhadoras domésticas enfrentam coação de patrões durante pandemia5 de junho de 2020 | por José Cícero da Silva Segundo Federação Nacional, domésticas são obrigadas a trabalhar e ameaçadas de demissão; maioria de denúncias é sobre patrões que as obrigam a dormir no trabalho Megaigrejas continuam abertas e dizem que fé cura coronavírus19 de março de 2020 | por Alice Maciel, Andrea DiP, Raphaela Ribeiro, Alice Maciel, Andrea DiP, Raphaela Ribeiro e Alice Maciel, Andrea DiP, Raphaela Ribeiro Templos que recebem milhares de pessoas por culto planejam inclusive esquema de plantão para atender “os aflitos” Em meio à pandemia de coronavírus, Brasil enfrenta “desertos” de UTIs13 de março de 2020 | por Anna Beatriz Anjos, Bianca Muniz, Bruno Fonseca, Rafael Oliveira, Anna Beatriz Anjos, Bianca Muniz, Bruno Fonseca, Rafael Oliveira, Anna Beatriz Anjos, Bianca Muniz, Bruno Fonseca, Rafael Oliveira e Anna Beatriz Anjos, Bianca Muniz, Bruno Fonseca, Rafael Oliveira Levantamento da Pública mostra que quantidade de leitos de UTI no Brasil segue a média da OMS, mas a distribuição desigual deixa áreas do Norte e Nordeste abaixo do recomendado Em 2020, seguimos investigando – mesmo à distância – a violência motivada por disputas de terra na Amazônia. Lavagem de gado dentro de terra indígena no Mato Grosso foi parar na JBS5 de agosto de 2020 | por Texto: Thiago Domenici, Rafael Oliveira | Infográficos: Bruno Fonseca e Texto: Thiago Domenici, Rafael Oliveira | Infográficos: Bruno Fonseca Documentos obtidos pela Pública indicam como um pecuarista com larga ficha de crimes ambientais na Amazônia enviou gado ilegal à maior produtora de carne bovina do mundo Com Bolsonaro, fazendas foram certificadas de maneira irregular em terras indígenas na Amazônia19 de maio de 2020 | por Bruno Fonseca, Rafael Oliveira e Bruno Fonseca, Rafael Oliveira Levantamento exclusivo revela que mais de 100 propriedades foram autorizadas em TIs que aguardam demarcação; autorizações explodiram com nova portaria da Funai que desprotege territórios A mineração em terra indígena com nome, sobrenome e CNPJ20 de fevereiro de 2020 | por Anna Beatriz Anjos, Bruno Fonseca, Ciro Barros, José Cícero da Silva, Rafael Oliveira, Thiago Domenici, Anna Beatriz Anjos, Bruno Fonseca, Ciro Barros, José Cícero da Silva, Rafael Oliveira, Thiago Domenici, Anna Beatriz Anjos, Bruno Fonseca, Ciro Barros, José Cícero da Silva, Rafael Oliveira, Thiago Domenici, Anna Beatriz Anjos, Bruno Fonseca, Ciro Barros, José Cícero da Silva, Rafael Oliveira, Thiago Domenici, Anna Beatriz Anjos, Bruno Fonseca, Ciro Barros, José Cícero da Silva, Rafael Oliveira, Thiago Domenici e Anna Beatriz Anjos, Bruno Fonseca, Ciro Barros, José Cícero da Silva, Rafael Oliveira, Thiago Domenici Levantamento exclusivo revela explosão de processos desde 2019 e lista os beneficiários com mais pedidos minerários em TIs: políticos, cooperativas de garimpo e até um artista plástico paulista Com a ajuda dos leitores, contamos as histórias de dez cidades pelo Brasil cujos prefeitos distribuíram remédios sem eficácia contra a Covid-19 como medida de combate à pandemia – e, em alguns casos, na busca de popularidade política e até da reeleição. ![]() Criamos uma ferramenta onde é possível consultar todos os pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro – são mais de 50 até agora. ![]() Colaborações![]() Em parceria com a Repórter Brasil, investigamos o uso e a liberação de agrotóxicos no país, assim como suas inúmeras consequências para a saúde da população e para o meio ambiente. ![]() Em parceria com o The Intercept Brasil, analisamos as mensagens privadas trocadas entre procuradores da Força-Tarefa da Lava Jato e outros membros do Ministério Público Federal (MPF) e da Justiça, como o ex-ministro Sérgio Moro. ![]() Investigação realizada por uma colaboração de veículos de dez países revelou que algumas igrejas e líderes religiosos nas Américas se amparam nas permissivas leis locais de liberdade de culto para abusar da confiança de seus fiéis e cometer crimes como lavagem de dinheiro e fraude. Nos juntamos a outros oito veículos de jornalismo independente para apurar casos de violência ligados à disputa política durante o período eleitoral. O levantamento registrou 150 ocorrências ao longo do mês de novembro. ![]() A Agência Pública se juntou a outras nove organizações de jornalismo independente para lançar o Canal Reload, uma das iniciativas vencedoras do Google News Innovation Challenge em 2019. O Reload se propõe a traduzir nossas reportagens e notícias para o público jovem, com vídeos explicativos, histórias em quadrinhos e lyric videos. ![]() Coordenamos a produção desta série de reportagens investigativas sobre a atuação de entidades religiosas que realizam práticas de “reorientação” para LGBTQI+ na América Latina. O especial foi realizado em parceria com Ojo Público (Peru), El Surtidor (Paraguai), a jornalista equatoriana Desirée Yépez e Mexicanos Contra la Corrupción y la Impunidad (México). Podcasts![]() Em 2020, lançamos o Pauta Pública, nosso podcast quinzenal que revela os bastidores de grandes reportagens tanto da Pública quanto de outras redações. ![]() Esta minissérie de podcasts busca trazer um olhar humano e autoral sobre personagens de reportagens que publicamos sobre a pandemia de coronavírus. Prêmios
AliadosEm 2020, completamos um ano do nosso programa de Aliados e chegamos a mais de 1500 pessoas que apoiam o trabalho da Pública! Faça parte, seja você também um Aliado! José Cícero da Silva/Agência Pública
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